Monday, October 30, 2006

 

Sangue é vida


Ter o meu pai hospitalizado e a levar sucessivas transfusões de sangue fez-me pensar sobre uma questão que tem andado latente já desde há algum tempo.

Para que ele o pudesse levar, alguém teve de o dar. Visto que não se fabrica, só se pode contar mesmo com a solidariedade humana. E eu tenho andado distraída. Já várias vezes pensei nisso, mas passa um dia, depois outro, e sim, eu devia dar, mas agora não é boa altura, amanhã também não, por um motivo qualquer, e assim se vai passando o tempo. Se todos tivessem agido assim, o meu pai não teria tido o sangue quando era vital tê-lo.

Às vezes é preciso confrontarmo-nos com as coisas para tomarmos consciência do nosso descaso que devia ser responsabilidade e colaboração.

Sim, eu tenho o clássico pavor das agulhas, provavelmente meio mundo terá o mesmo problema, mas tenho de o ultrapassar. É uma obrigação cívica e moral.

Terei eu o direito de, porque hoje não dá jeito, amanhã me esqueço, no dia a seguir me lembro do tamanho das agulhas e depois por desleixo ou por outra coisa qualquer, privar uma pessoa da vida que lhe podia dar? Acho que não.

Acabou-se a indecisão, o adiamento e a inércia. Eu vou dar sangue!

(Imagem de http://www.anvisa.gov.br/cidadao)

Sunday, October 29, 2006

 

2 a 2: Ficando agreste...



(Fotografia Olga Correia)


Friday, October 27, 2006

 

Há dias e dias


Há dias em que estamos bem e outros em que estamos menos bem. Parece-me que é um facto inegável. Pelo menos comigo é o que se passa. Dizer o contrário, na minha perspectiva, é não conhecer ou aceitar a natureza humana. E humano também é, embora nos esforcemos para que não aconteça, não nos conseguirmos libertar a 100% do que nos incomoda quando se passa de um contexto para o outro. Não se consegue (eu pelo menos não consigo) compartimentar as emoções, os sentimentos, os estados de espírito: agora esta parte fica trancada a sete chaves e vou àquela gaveta buscar o sorriso número 32 para estampar no rosto durante as próximas horas. É óbvio que devemos tentar que a interferência não seja muita, mas completamente não sei se será possível.

Até aqui tudo parece mais ou menos consensual. Agora a questão que se coloca é outra: quando alguém se encontra num dia “menos-sim” (acho que a expressão “dia não” é muito forte, sou optimista, algo de positivo haverá sempre, por isso, na pior das hipóteses, dia “nim”) o que é que é suposto os outros fazerem? Compreender e apoiar, parece-me a resposta lógica. Pois, talvez lógica para mim, porque já percebi que não é a lógica colectiva. É uma pena, e diz muito da sociedade em que vivemos, de alguns membros da sociedade, pelo menos. É que se a pessoa é honesta e assume o facto, em vez de incentivo e energia positiva vai ser alvo dos ataques dos lobos, lobos esses que, segundo afirmam, deixam os seus problemas em casa (que falta de visão e de autoconhecimento, talvez no Natal fosse bom receberem espelhos de presente).

Se a pessoa em vez de assumir o seu dia menos-sim afirmasse peremptoriamente “Não senhores, o dia não me está a correr mal, este é o meu estado natural, eu sou assim e ponto final” os lobos armavam-se em cordeirinhos, enroscavam-se e passavam até a andar com mais cuidado. Mas não, se encontram um ponto “mole” (ou um dia “mole”) carregam. A mim só me ocorre uma razão: as suas próprias fragilidades não assumidas, trancadas e soldadas fortalecem-se (ilusoriamente) um bocadinho quando podem (ou acham que podem, ou tentam) atacar as fragilidades dos outros. Querem parecer fortes porque se sentem fracos (mas nem por sombras assumir tal desonra!). Se assumissem que também têm fraquezas tornavam-se automaticamente mais fortes e mais tolerantes com as fraquezas alheias.

(Depois ainda há os que se regozijam com o mal dos outros… mas esses nem merecem comentários.)

Nunca concordei com Maquiavel, mas em situações deste género dou-lhe o benefício da dúvida. É que as pessoas habituam-se ao sorriso e à boa disposição e quando isso falta, uma vez que seja, cai o Carmo e a Trindade, é o caos. Ninguém se preocupa com os possíveis motivos da falta do sorriso, apenas que está em falta. Se formos antipáticos e agressivos a maior parte do tempo, quando brindamos o mundo com um sorriso ocasional este louvar-nos-á eternamente e agradecerá de joelhos tão grande benesse.

Mundo louco, este em que vivemos. Será que afinal Maquiavel tinha razão?

(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Thursday, October 26, 2006

 

2 a 2: Às vezes também há espinhos...


(Fotografia Olga Correia)

Tuesday, October 24, 2006

 

Como o rio




O rio corre para o mar. Parece que é uma realidade inegável. E supõe-se que sabe que corre para o mar, que o quer fazer e que o faz com prazer. Não é fácil conceber o rio a tentar agarrar-se às margens e aos arbustos para não seguir o seu caminho. É a missão da sua vida, ir ao encontro do mar e nele se diluir, tornar-se maior, mais profundo, mais tudo…

Nós somos como o rio. O nosso curso também tem por objectivo levar-nos a cumprir a nossa missão, a atingir a nossa maior realização, a ser mais, melhor, maior… Seria de supor que, tal como o rio, o fizéssemos com prazer, entrega e serenidade, seguindo as curvas do percurso, contornando as pedras e os troncos caídos e a cada obstáculo vencido tornando-nos mais fortes, mais sábios e ainda mais felizes.

Mas não. Reside aqui a nossa grande diferença. Nós, seres humanos, supostamente dotados de grande inteligência, não conseguimos muitas vezes perceber as verdades mais simples (e também mais importantes). E rebelamo-nos contra elas, recusamo-las, agarramo-nos desesperadamente aos ramos e às pedras do caminho para não seguirmos em frente. Esperneamos e estrebuchamos e dizemos que não. Conseguimos com isto dois grandes feitos: ficamos esgotados e atrasamos a chegada.

A sorte é que o Universo é paciente e arranja mil e uma formas de nos ensinar as nossas lições. Convém não sermos muito casmurros para que essas formas não tenham de se tornar drásticas. E se quiséssemos mesmo ser bons alunos aprendíamos logo à primeira a seguir o exemplo do rio e dispensávamos as outras mil.

(Imagem: Troy & Mary Parlee, Mountain River in Spring)

Monday, October 23, 2006

 

2 a 2: Deixando fluir...



(Fotografia Olga Correia)


Friday, October 20, 2006

 

Coisas pequenas que dizem muito




Um casal de namorados num café.
Ela dá-lhe um beijo. Ele não reage. Ela manifesta-se:
- Então?!
E nesta pequena palavrinha vai tanta informação.

a) Revelou que o facto de ela lhe dar um beijo (e aqui pode substituir-se por qualquer outra coisa), na sua óptica, o obriga a corresponder. É como se dissesse “Então, como é? Dei-te um beijo e não me retribuíste?! Não sabes que é suposto?” (já para não dizer obrigatório…). Subentende-se também que não lho deu (apenas) pelo prazer de lho dar mas pela expectativa de o receber de volta.

b) Não o tendo recebido, reclamou-o, não com ternura, carinho e serenidade mas com agressividade e irritação. Não respeitou o seu tempo, o seu espaço, a sua vontade, não aceitou que nem sempre apetece dar um beijo e que isso em nada põe em causa o amor e a relação. Amor para ela significa cobrança, obrigatoriedade, quer apeteça quer não.

c) Com esta atitude revelou também o seu medo e a sua insegurança. Porque aquela palavrinha, naquele tom, é também o mesmo que dizer “Então, o que se passa, já não me amas?” deixando subjacente o medo de que seja essa a realidade. Se estivesse segura e tranquila poderia, sem receios e com naturalidade, aceitar que nesse momento o beijo não viesse sem se sentir posta em causa.

d) Mostrou a necessidade de controlo, de sentir que domina o outro, a necessidade de garantir que ele aja de acordo com os desejos dela. A necessidade de sentir que ele está preso. Talvez não saiba que o amor só existe e se desenvolve em liberdade.

e) E, se considerarmos que a parte revela o todo, o incidente mostrou ainda que aquela relação não se baseia no respeito e na aceitação dos estados de espírito do outro (e provavelmente de outras coisas), condição essencial para uma relação feliz, saudável, construtiva, enriquecedora…

(Imagem: Gustav Klimt, The Kiss (detail))


Wednesday, October 18, 2006

 

2 a 2: À procura do Norte...



(Fotografia Olga Correia)

Monday, October 16, 2006

 

Todos os caminhos vão dar a Roma...



Um destes dias fui tomada pela emoção, coisa que, por acaso, até é fácil e frequente em mim, só que desta vez por um motivo original. Passei por duas localidades, à noite, e fiquei maravilhada com as centenas de pontos de luz que ladeavam a estrada. De ambos os lados, nos parapeitos das janelas, nos muros, no chão, um estendal de velas fazia-me sentir um dos andores em procissão.

Embora não seja propriamente adepta deste tipo de rituais, não pude evitar o respeito pela manifestação de fé.

Não posso dizer que pertença a uma religião, pelo menos não àquelas convencionais. Vou com o mesmo prazer a uma missa católica, a um culto evangélico, a uma meditação à beira mar, ou a outra qualquer sessão em que se estabeleça contacto com Deus. Chamemos-lhe o que quisermos, Deus, Jeová, Universo… tanto faz. Nestas coisas lembro-me sempre da parábola do bom samaritano, importante mesmo não é o que se professa, o rótulo que se atribui, mas a forma como se age e se vive.

E assim sendo, acredito que todas as religiões são boas, desde que tenham por objectivos trabalhar pelo bem de todos e aproximar de Deus. Aplica-se, neste contexto, o provérbio popular: Todos os caminhos vão dar a Roma. E são, portanto, todos igualmente respeitáveis.

Quanto a mim, se tivesse obrigatoriamente de me assumir de alguma religião seria da religião do Amor.

(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Thursday, October 12, 2006

 

2 a 2: Entardecendo...


(Fotografia Olga Correia)

Saturday, October 07, 2006

 

Aos outros e a ti



Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.

É um bom lema que eu repito várias vezes, a mim e aos outros.
É bom lembrar também que a mesma preocupação se deve aplicar na versão afirmativa:

Faz aos outros o que queres que te façam a ti.
(Não esperes que os outros façam o que tu não fazes.)

E, já agora:

Faz a ti o que queres que te façam a ti.
(Se não souberes fazer por ti próprio não saberás, conseguirás ou poderás fazê-lo pelos outros.)


(Imagem: Poster Do All the Good You Can)

Wednesday, October 04, 2006

 

2 a 2: Espreitando e dizendo "Olá!"...



(Fotografia Olga Correia)


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