Thursday, February 28, 2008

 

Só o perdão não chega



Uma longa caminhada, num passado fim-de-semana, levou-me a enfrentar diferentes processos em simultâneo. Entre várias experiências importantes, há uma que me apetece partilhar, pela aprendizagem que me trouxe e pelo que essa minha aprendizagem possa ter de utilidade para alguém.

Esta é uma experiência de perdão, e não só.
As características terapêuticas do perdão têm sido amplamente divulgadas, e eu confirmo e comprovo com frequência esta realidade. Muito cedo na minha vida comecei a perceber a importância de me libertar dos elos negativos formados por mágoas e ressentimentos em relação aos outros. Interiormente estabelecia com eles um diálogo (ou talvez mais um monólogo) e dizia-lhes: “Eu perdoo-te porque era uma experiência pela qual eu precisava de passar e tu foste apenas o agente da sua materialização, perdoo-te porque não soubeste, quiseste ou pudeste fazer melhor, perdoo-te porque eu também não sou perfeita e também erro e também eu às vezes preciso de pedir perdão…”. A prática continuada tornou este processo cada vez mais fácil e tornou o meu quotidiano, as minhas relações e a minha vida muito mais leves e harmoniosos.

E como esta lição parecia já estar aprendida, o Universo trouxe-me outros desafios para enfrentar. Relativamente dominada a situação no presente, foram-me apresentadas cenas de passados distantes, situações difíceis que criaram desarmonias energéticas.

Nesta dança de desequilíbrios e reequilíbrios kármicos, há muitos encontros (e desencontros) que surgem nas nossas vidas com o objectivo simples (ou talvez nem tanto) de gerar o perdão como forma de libertação, não só do que perdoa como do que precisa de ser perdoado.

(Quem não acredita na reencarnação pode parar por aqui e passar já para outro post ou para outro blog ;)

Não só acredito no processo cíclico e evolutivo da alma como na necessidade de repor o equilíbrio que foi perturbado em vidas anteriores e que nos mantém ligados, de formas positivas e negativas, a muitos dos seres com os quais nos relacionamos.

Descobrir algumas das relações e acontecimentos de passados longínquos que nos unem a algumas pessoas, perceber a quantidade e profundidade de algumas das dívidas kármicas, pode não ser a mais fácil das tarefas. Pode não ser nada fácil perceber que alguém que nos fez tanto mal, tantas vezes, em tantas vidas, precisa agora de conviver connosco, precisa agora do nosso perdão (muitas vezes inconscientemente), precisará até de mais do que isso.

Descobertas algumas destas situações, compreendidas as necessidades de perdão e equilíbrio, perdoado o que houvesse a perdoar, e ficaria, à partida, sanada a questão… Mas não é bem assim. Se ainda dói, se ainda provoca tristeza, se ainda incomoda, então há algo que ainda não está bem. Eu perdoei tudo, muitas das coisas logo na altura, outras no presente ao tomar consciência delas… perdoei mesmo. Tudo. Então o incómodo e a tristeza o que me querem dizer? Que ainda não está tudo bem, que ainda não está tudo resolvido, que ainda não está tudo curado. Então o que falta? A resposta não se fez esperar, surgiu rápida e inequívoca: falta amor. É preciso enviar amor, para a pessoa, para a situação. É preciso enviar amor para além do perdão. E esta consciencialização, o envio do que estava em falta, trouxe-me a leveza e a cura.

É como se o perdão fosse a libertação, a forma de cortar o cordão que nos prende pela negativa, e o amor fosse a cura do que fica depois disso, o preenchimento do espaço que se criou. Quando se retira algo de negativo deve-se preencher o vazio com algo de positivo. Só nessa altura se conclui, e limpa, e transmuta, e resolve o processo. Imagino-me mesmo a enviar com as mãos a energia rosa e dourada para a pessoa e situação que visualizo diante de mim. E isto traz-me uma paz enorme, uma serenidade fantástica.

(Imagem1: Jean-Luc Bozzoli, Cocoon
Imagem2: Lente Louisa, Red Butterfly)

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