Sunday, November 18, 2007

 

Coisas que o dinheiro não compra






Torres Vedras. Jardim da Graça.
O sol de Novembro, ainda quente e meloso, escondia-se atrás das árvores, mas alguns dos seus raios ainda incidiam naquela fonte, criando uma espécie de clareira, iluminada e cercada pelas árvores.
O homem, magro e moreno, por volta da meia idade, saiu da carrinha branca abraçando com ternura o seu tesouro. Avançou até ao centro, colocou o barco, com todo o cuidado, no beirado de pedra para, de seguida, com reverência, o colocar no seu pequeno mar. A mulher e a menina aproximaram-se, em deleite. A pequena aos pulos, aos guinchinhos e batendo palmas acompanhava o percurso. Segurando o barco por fio de prumo, não fosse perder-se em alto mar (ou afastar-se para o centro, distância que implicaria banho completo para o resgate), controlava o seu percurso à volta da fonte. Mais uma volta, e outra, e ainda outras tantas. E os três naquela alegria eram acompanhados pela melodia dos repuxos e pelas nuvens de pombos que por vezes se lhes juntavam.

Quem precisa de (muito) dinheiro para ser feliz? Quanto mais não vale uma destas memórias para levar na bagagem para o futuro do que um brinquedo muito caro e um “Vê se te entreténs com ele tempo suficiente para me deixares fazer as minhas coisas”. Foi o tempo partilhado, foram os risos, a excitação, os laços que se criaram… Há momentos de felicidade que não há dinheiro que compre.

No dia em que a RTP apresentou um estudo europeu (realizado em nove países) que diz que os portugueses são os que brincam menos com os filhos, eu tive o privilégio de assistir a esta cena enternecedora. E chamem-me lírica se quiserem, mas eu acredito que é possível a mudança, e a curto prazo.


(Imagem 1: Richard Stacks, Father Walking with Child in the Park
Imagem 2: J. Clark, Toys in Jeans I)

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