Thursday, April 17, 2008

 

A vez do 13


O painel apitou estridente. Rectangular, de fundo preto, fazia sobressair, bem destacado e vermelho vivo, o número 13. Tinha acabado de chegar, de tirar a senha e de reparar que havia várias pessoas à minha frente. Não seria ainda, com certeza, a minha vez. Mas ainda assim confirmei. Olhei de relance, despreocupadamente. Espanto: afinal era. Era meu o 13.

Fiz o pedido e fui sentar-me a uma mesa de canto, discretamente, saboreando o lanche ao som do burburinho, enquanto o número se entranhava em mim.

Não partilho das superstições da maioria relativamente ao número 13, não o vejo como um número maléfico ou assustador, dois dígitos a evitar. Pelo contrário, sempre o senti como um benfeitor, um número que, de alguma forma, para mim, estava associado a coisas boas. Quando descobri o Tarot aprofundei-lhe o sentido. Talvez o arcano mais temido, A Morte. E temido provavelmente por incompreensão. Ou por comodismo. Ou por resistência à mudança. Ou por se entender no seu sentido literal em vez de no arquetípico.

A Morte simboliza um fim, algo que termina, algo de que temos de nos desprender, desligar, desapegar… Uma ideia, uma pessoa, uma situação… Qualquer coisa que já não nos serve, que já não está de acordo com a nossa energia, com a nossa essência, com a nossa forma de estar e de ser. E se já não nos espelha, se já não se coaduna, se já não nos ajuda a ser cada vez mais quem somos e a evoluir, então prejudica-nos, retira-nos energia, faz-nos ficar parados, gera “lixo”, cria bloqueios de energia que não circula e que não se usa produtivamente, em última análise deixa-nos doentes.

Quando temos lixo em nossas casas sentimos necessidade de o deitar fora, de fazer limpeza, quando nos sentimos doentes fazemos todos os esforços para nos libertarmos da doença. E o que acontece no mundo material e físico acontece de igual modo nos outros domínios da nossa vida. Se algo não está bem, não nos faz bem, porquê insistir em mantermo-nos agarrados a essas realidades, quaisquer que sejam? Não seria, no mínimo, uma questão de bom senso fazermos uma limpeza onde ela é necessária? Libertar o que já não serve e criar espaço para o novo? Quem é que prefere estar doente se pode gozar de boa saúde? Quem é que prefere estar infeliz se pode beneficiar de plena felicidade? É isto que A Morte implica, também apelidada de Transformação em alguns baralhos, algo tem de morrer para que algo melhor possa renascer. Isto é crescimento e evolução.

Como a dar apoio ao rumo da minha reflexão, o painel continua a marcar o 13, mesmo à minha frente, empoleirado no alto e a gritar esganiçado pelo esforço de se tentar fazer compreender. O cavalo e o cavaleiro rejubilam: “É isso, é isso! Estamos aqui, e viemos por bem!”. Eu sei amigos, e agradeço. E sei também que sincronisticamente confirmam e formam a claque da minha própria fase de morte e regeneração. Aceito serenamente a mudança. Carinhosamente dou colo à transformação.

O painel volta a apitar. Anuncia agora o 14. Muito bem. Diz-me que a seguir posso preparar-me para A Temperança.


(Imagem 1: Clipart.Com, 13
Imagem 2: Tarot Rider Waite, Death)

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