Tuesday, February 16, 2010

 

É de dar dó…


Tenho dentro de mim uma criança de quatro anos que às vezes me faz perguntas a que eu não sei responder.

Cenário: mulheres, seminuas, cheias de lantejoulas e penachos, meneando-se pela rua abaixo enquanto tentavam, sem sucesso, demonstrar o calor e a alegria que não lhes calhou em sorte. Dando um toque deprimente à cena, chovia que Deus a dava, as plumas encharcadas pelos pingos determinados em denunciar o caricato da situação tombavam cabisbaixas pela água e pela vergonha. Estava um frio de rachar, os termómetros a marcarem temperaturas de alerta amarelo, a Direcção Geral de Saúde a recomendar cuidados especiais nos agasalhos, os observadores a bater o queixo, de casaco sobre casaco, gorros, luvas e cachecóis, para além dos chapéus de chuva, e estas meninas com quase tudo o que tinham absolutamente desagasalhado, aconchegado apenas pelos minúsculos corpetes (quando os havia), pelas tanguinhas, pelo frio e pela chuva.

E aquela minha criança pergunta: O que leva mulheres adultas, em princípio com inteligência e maturidade, a sujeitarem-se a este papel? E a candidatarem-se a uma pneumonia, ou pelo menos a uma séria constipação?
E o que é que eu lhe respondo?: Bem… não tenho a certeza, mas é possível que seja por imitação. O problema é que se esqueceram (não repararam nesse pormaior) de que não podem recriar em Portugal o Carnaval do Brasil, por uma razão muito simples, não temos as mesmas condições. Num país cheio de calor e de sol é natural que as indumentárias sejam diminutas e cheias de plumagens, mas numa zona em que nesta época o tempo é de frio e de chuva, não é nada natural. Nem lógico. É caricato. Para não dizer mesmo ridículo.

Ó portugueses, uma coisa é inspirar-se numa ideia, outra é copiá-la de forma absurda e descontextualizada. Tenham dó! Adaptem-se às circunstâncias que têm. Sejam sensatos e criativos.

(Imagem: Autor desconhecido)

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