Saturday, September 30, 2006

 

Abaixo os egos, os julgamentos e as prisões




Na sequência de uma nóia com que andei há um tempo (a das gavetas e dos rótulos), apareceram-me agora vários textos, de várias fontes (todos ao mesmo tempo para eu não ter desculpas de que não percebi a mensagem, são aquelas coincidências sincronísticas…) a reforçar a ideia de que a tirania do ego é tentar convencer-nos (e conseguir, na maior parte das vezes) de que precisamos de limites, de que precisamos de julgar o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é mau, o que se “deve” e “não deve”…

O julgamento e o medo alimentam o ego, e o ego é a nossa prisão. E o mais inacreditável é que nós agarramo-nos com unhas e dentes a esta prisão, defendemo-nos ferozmente de tudo o que possa pôr em causa este ego, estes limites, estas grades. Agarramo-nos porque é o conhecido, porque nos dá um falso sentido de segurança, porque temos medo do que possa estar além, porque pensamos que é aquilo que somos e, na verdade, é precisamente o que nos impede de sermos quem somos.

Se conseguíssemos ter uma percepção clara desta realidade, faríamos tudo para nos libertarmos em vez de fazermos tantos esforços para continuarmos presos.

E se para abrir as grades é preciso libertar o ego, e para isso é condição não dar guarida ao julgamento, vou fazer um grande esforço para tentar não dizer “isto é certo, aquilo é errado”, “isto é bom, aquilo é mau”. “Isto” simplesmente é. É assim como é. É assim como tem de ser. É assim como Deus quer. E então, até se pode deixar a neutralidade e passar do “isto simplesmente é” para o “se é assim é porque Deus quer, e se Deus quer é porque é bom” (porque, de alguma forma, me faz crescer, me leva a progredir e me conduz a uma situação melhor…). E nesta perspectiva tudo é bom, mesmo que à primeira vista (ou segunda ou terceira… pronto, à vista humana) pareça mau. Pode ser polémico para muita gente, eu sei, mas eu acredito firmemente nisto.


(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Tuesday, September 26, 2006

 

2 a 2: Simplicidade...



(Fotografia Olga Correia)

Saturday, September 23, 2006

 

Eu, do pecado da incoerência me confesso





Há dois versos de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que teimam, com alguma regularidade, em lembrar-me o meu nível de incoerência:



As pessoas sensíveis não são capazes de matar galinhas
Porém são capazes de comer galinhas.

Como isto se aplica a mim, e como eu gostaria que não se aplicasse. Tenho plena consciência de que se tivesse de matar para comer (galinhas ou qualquer outra coisa) rapidamente me tornaria vegetariana. Mas entretanto, enquanto não tenho de me confrontar com isso, vou-me safando tentando não pensar no assunto de cada vez que uma coxinha saborosa faz as delícias das minhas papilas gustativas.

Poderia chamar a isto muita coisa, tentar tapar o sol com a peneira, esconder debaixo do tapete, tentar enganar-me a mim própria, mas se calhar o mais correcto é mesmo chamar a coisa pelo nome: incoerência. Custa-me muito ter de aceitar isto, e conviver com esta realidade não é algo pacífico para mim. Tudo bem, somos humanos, temos direito a uma incoerenciazita aqui ou ali, mas ainda assim… Tenho de continuar a tentar encontrar uma solução para este meu problema existencial.

(Imagem: Fotografia Joel Sartore)


Thursday, September 21, 2006

 

2 a 2: Florindo...


(Fotografia Olga Correia)


Saturday, September 16, 2006

 

O sinal dos tempos? Ou das culturas?




Chamam-lhe o passeio dos tristes. Ainda não atingiu o estatuto de expressão idiomática, mas é muito conhecida por designar a voltinha de fim-de-semana ao centro comercial.

Segundo dizem é uma característica muito portuguesa transformar o tempo de família em tempo de comercial, ou o tempo de pausa e lazer em tempo de compras. Parece-me que talvez se confirme o que ouço dizer. Grupos de pessoas, constituídos por adultos, jovens e crianças, passeiam-se pelas lojas, alguns com sacos aos cachos, outros limitando-se a ver as montras. E como é que eu sei isto? Também lá estive. Mas estive porque precisava realmente de procurar um artigo, e aproveitei para lanchar e para trabalhar um pouco na esplanada simpática com brisa amena, sol toldado e som de repuxo. Se não precisasse, e tendo tempo livre, estava noutra, outros espaços me chamariam. Como tudo, o centro comercial com conta peso e medida até pode ser interessante, mas conheço pessoas que fazem para lá as peregrinações de todos os fins-de-semana, claro, acompanhados dos filhos, que em vez de se habituarem a ver as diversas paisagens do mundo e da vida, limitam-se a ter acesso a montras e são levados a acreditar que a vida se resume às compras.

Está tudo caro e a vida está má, costumam argumentar, não se pode fazer mais do que ver montras. Pode sim. Pode-se ver as paisagens naturais que são muito mais bonitas, as praias, os campos, até mesmo as cidades vistas na perspectiva certa. Os contrastes das cores e dos recortes das árvores, o sol a brincar com as sombras, as pessoas que passam e que não dizendo nada dizem tanto, os pássaros que desenham o céu, a magia de partir à aventura em busca do desconhecido, nem que seja do bairro vizinho… mil e um outros prazeres estão disponíveis para quem deles quiser usufruir.

E também para quem acha que a cultura, como alternativa, está cara, até os museus são de entrada gratuita, pelo menos aos domingos de manhã.

Será que estamos a perder sensibilidade? O prazer das coisas simples mas profundas e belas? A magia e a alegria de viver? Isto será um sinal dos tempos? Ou das culturas? Tenho esperança de que seja reversível, pelo bem do presente e do futuro.


(Imagem: Auguste Macke, Milliner's Shop Window)

Tuesday, September 12, 2006

 

2 a 2: Silhuetas...



(Fotografia Olga Correia)

Sunday, September 10, 2006

 

Terei ouvido bem?



Ouvi de passagem e fiquei na dúvida se teria percebido bem. Na SIC Notícias dizia-se que algum organismo (não sei se o Ministério da Educação, não ouvi essa parte) ía criar uma linha de apoio a professores vítimas de violência nas escolas, para os professores poderem desabafar sobre as situações que lhes acontecem.

Posso até estar a ver mal a questão, mas para já, assim à primeira vista, parece- -me grave. Então é assim que se resolvem os problemas das escolas? Falou-se de violência dos alunos contra os professores, é assim que se resolve? Parece-me que estamos a seguir por uma trilha com rumo complicado à vista, tanto pelo problema que surge como pela solução que se prevê.

Só a criação desta linha já diz muito. Equipara-se a situação com os professores à violência doméstica e aos maus tratos a crianças, enfim, aos que precisam de uma linha de consolo porque muito mais não se faz por eles, todos igualmente vítimas da agressividade descontrolada de terceiros.

E depois, será que resolve? O que se poderá dizer numa linha destas? “Deixe lá, furaram-lhe os pneus mas pelo menos não lhe riscaram o carro”, “Deram-lhe um pontapé mas nem sequer ficou com nada partido…”, “Chamaram-lhe #*&0-#* mas a senhora até sabe que não é…” …

Talvez não fosse má ideia criar também uma linha de apoio para os professores vítimas dos maus tratos do Ministério da Educação. Palpita-me que teriam de ser várias linhas…


(Imagem: Erin Garvey, Red Telephone Handset)

Friday, September 08, 2006

 

A favor dos sonhos
















Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama


(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Thursday, September 07, 2006

 

A verdade emprestada e a verdade sentida




Uma verdade emprestada é algo que ouvimos a outra pessoa e que adoptamos, ficando por aí. Nunca chega a ser nossa verdadeiramente. Uma verdade sentida vai mais além, é a que tendo sido vivida ou ouvida, ou intuída, ou seja lá qual for a forma como chegou até nós, interage connosco, faz tilintar os sininhos interiores, todo o ser sente e diz que é verdade.

O que é que me parece que faz a distinção essencial entre estas duas verdades? Duas coisas essencialmente. Uma delas é a atitude crítica (no bom sentido, obviamente, no sentido construtivo e edificante), é não se resignar a aceitar tudo o que nos querem impingir como verdade universal, absoluta, inquestionável. A outra distinção que me parece fundamental é a fidelidade à nossa essência, a quem nós somos verdadeiramente. Se aceitamos viver das convicções dos outros estamos a abdicar de nós, da nossa verdade, pior, estamos a trair-nos, estamos a tornar-nos cada vez mais pequenos em vez de crescer cada vez mais.

Se aquilo que me querem impor criar ressonância em mim, se eu o sentir como verdade, muito bem, têm em mim uma adepta, mas convicta e firme. Se, pelo contrário, depois de analisar e reflectir sentir que aquilo não me diz nada, tenham paciência, não contem comigo. Parece-me que é a forma mais correcta e honesta de agir, comigo e com os outros.


(Imagem: Irena Roman, Truth)

Wednesday, September 06, 2006

 

2 a 2: Nas nuvens...


(Fotografia Olga Correia)

Tuesday, September 05, 2006

 

Portas e janelas



Mais uma ousadia, a transformação de um ditado popular (na sequência da lição das toalhas).

Costuma dizer-se que:
Quando Deus fecha uma porta abre uma janela.

Eu acredito que é precisamente ao contrário:
Quando Deus fecha uma janela abre uma porta.


(Imagem: Lester Lefkowitz, Room with a View)

Monday, September 04, 2006

 

2 a 2: Reflexos...


(Fotografia Olga Correia)

Sunday, September 03, 2006

 

A lição das toalhas


Eu concluí recentemente que precisava de um conjunto de toalhas de casa-de-banho e dei início ao jogo da procura. Como as anteriores tinham sido compradas no Continente lá fui eu, convencida de que ía encontrar exactamente o tom de que precisava (sim, é verdade, não prescindo de ter os tons a combinar!). Na primeira loja por onde passei não encontrei nada, na segunda nada encontrei, e por aí adiante, o mesmo resultado. Nem Continente, nem Modelo, nem Jumbo, nem Benetton (tem tudo a ver na sequência, não é? Mas também não tinha!), nem IKEA… Nada. Bolas, o que é isto? Esgotaram as minhas cores do kit das tintas?

E então, quando chegou o momento certo, eu fui levada ao sítio certo onde estavam as minhas toalhas à minha espera. No Armazém Americano (isto hoje parece o intervalo da publicidade, juro que não me pagam nada!).

E a lição está nisto: Eu tinha de procurar, tinha de fazer a minha parte e o meu esforço (porque aceitar e deixar fluir a vida não implica encostar-se à sombra da bananeira), mas, e embora isso me tivesse parecido na altura uma chatice, ainda bem que não encontrei as ditas toalhas nas lojas anteriores, porque aquelas, as minhas, as que estavam à minha espera, eram muito mais macias, mais absorventes e mais bonitas (e não, não custaram uma fortuna, o preço era o mesmo!).

Eu tenho tido experiências destas ao longo de toda a minha vida, em relação a tudo, sempre que algo me parece negativo (por ter ou por não ter acontecido) acabo sempre por dar graças a Deus porque deu origem a algo muito melhor.


(Imagem: Anne Geddes, Towels)

Saturday, September 02, 2006

 

2 a 2: Raízes...


(Fotografia Olga Correia)


Friday, September 01, 2006

 

Ingénuos, distraídos, cegos, insensíveis ou simplesmente machistas?


Pronto, mais um comentário dos que me fazem entrar prontamente em ebulição: “Não se pode exigir a um homem que tenha vocação para tratar dos filhos! Muito menos para colaborar nas tarefas da casa. Os homens não foram talhados para isso!”

Com que então não se pode exigir a um homem que tenha vocação para tratar dos filhos? Claro, seria uma grande sobrecarga, compreende-se, é muito mais fácil atirar para cima da mãe todos esses afazeres e responsabilidades, coisas pequenas que simplesmente permitem garantir a continuação da vida criada pelos dois (parece que ainda são precisos dois nesta matéria). Pois é óbvio que é muito mais prático não ter de mudar fraldas e dar comida e outras coisas afins, isso não são coisas de homem, a mulher que trate disso quando chegar todos os dias do trabalho tão estafada como ele mas cheia de vontade de cumprir todas as suas outras funções (para além de tratar da descendência, cuidar da casa, da comida, da roupa e todos os outros etcs) enquanto o homem tranquilamente cumpre as suas próprias tarefas (ler o jornal, dormir a sesta, ver futebol, ou, com um pouco de sorte desentupir algum cano de três em três anos ou limpar o carro de dois em dois meses). É sem dúvida o mais justo, porque os homens não foram talhados para essas coisas e não têm capacidade nem desejo de as aprender (safa, não são loucos nem masoquistas, o que é isso de cavar a sua própria sepultura, ainda se habituavam a isso, não, nem pensar, é melhor deixar ir andando, as mulheres vão fazendo!).

Claro que também não foram talhados para serem justos, porque se fossem, ou se tivessem capacidade de entendimento (mínima que fosse) conseguiriam perceber a tremenda injustiça que é a sobrecarga a que sujeitam as mulheres. Esqueceram-se de que já não vivemos na época em que as mulheres tinham como única “profissão” serem donas de casa. Hoje têm de exercer outras profissões, tal como os homens, mas a sociedade recusa-se a perceber as mudanças e continua a atribuir-lhe a exclusividade, o grande privilégio, de acumular todas as funções.

O meu grande e sincero louvor às super mulheres que acumulam tantas funções injustamente, mas não sei se é muito boa ideia, a continuar assim nada vai mudar.E aos homens, só lembrar: felizmente uma das nossas partes componentes chama-se cérebro, e era bom que fosse usado de tempos a tempos, sob pena de poder vir a enferrujar e desactivar por falta de uso.

P.S. Ok, ok, eu sei que nem todos são assim tão “distraídos”. O meu louvor às honrosas excepções.


(Imagem: Justin Angel)

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