Saturday, September 16, 2006

 

O sinal dos tempos? Ou das culturas?




Chamam-lhe o passeio dos tristes. Ainda não atingiu o estatuto de expressão idiomática, mas é muito conhecida por designar a voltinha de fim-de-semana ao centro comercial.

Segundo dizem é uma característica muito portuguesa transformar o tempo de família em tempo de comercial, ou o tempo de pausa e lazer em tempo de compras. Parece-me que talvez se confirme o que ouço dizer. Grupos de pessoas, constituídos por adultos, jovens e crianças, passeiam-se pelas lojas, alguns com sacos aos cachos, outros limitando-se a ver as montras. E como é que eu sei isto? Também lá estive. Mas estive porque precisava realmente de procurar um artigo, e aproveitei para lanchar e para trabalhar um pouco na esplanada simpática com brisa amena, sol toldado e som de repuxo. Se não precisasse, e tendo tempo livre, estava noutra, outros espaços me chamariam. Como tudo, o centro comercial com conta peso e medida até pode ser interessante, mas conheço pessoas que fazem para lá as peregrinações de todos os fins-de-semana, claro, acompanhados dos filhos, que em vez de se habituarem a ver as diversas paisagens do mundo e da vida, limitam-se a ter acesso a montras e são levados a acreditar que a vida se resume às compras.

Está tudo caro e a vida está má, costumam argumentar, não se pode fazer mais do que ver montras. Pode sim. Pode-se ver as paisagens naturais que são muito mais bonitas, as praias, os campos, até mesmo as cidades vistas na perspectiva certa. Os contrastes das cores e dos recortes das árvores, o sol a brincar com as sombras, as pessoas que passam e que não dizendo nada dizem tanto, os pássaros que desenham o céu, a magia de partir à aventura em busca do desconhecido, nem que seja do bairro vizinho… mil e um outros prazeres estão disponíveis para quem deles quiser usufruir.

E também para quem acha que a cultura, como alternativa, está cara, até os museus são de entrada gratuita, pelo menos aos domingos de manhã.

Será que estamos a perder sensibilidade? O prazer das coisas simples mas profundas e belas? A magia e a alegria de viver? Isto será um sinal dos tempos? Ou das culturas? Tenho esperança de que seja reversível, pelo bem do presente e do futuro.


(Imagem: Auguste Macke, Milliner's Shop Window)

Comments:
Concordo plenamente contigo.
Eu por exemplo prefiro ficar a usufruir da minha casa do que ir para um espaço comercial. Não é que não vá! Mas só quando é estritamente necessário. Bj
 
Tam calma, tudo é ciclico.
Mas um destes fins-de-semana vi-me desesperado a correr com a restante família para um Centreo Comercial. É que lá, pelo menos, há ar condicionado e estava um calor de morrer.
 
Fátima Vinagre: E não há dúvida de que o teu lago é muito mais interessante...
:)

LFM: Sim, tenhamos esperança de que passe o ciclo da febre comercial. E pronto... quando há um motivo válido... He,he
:)

Sharina: Concordo contigo, centro comercial e novelas, tudo no mesmo saco, o efeito é o mesmo, em demasia limita horizontes e contribui para o desactivar do cérebro... Facilidade e qualidade quase nunca combinam.
Obrigada pelo elogio. Benvinda e volta sempre.
:)
 
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