Tuesday, July 17, 2007

 

O lugar perfeito



Quando fiz os cursos de Reiki uma das coisas que me disseram, e que muitos reikianos praticam, é que para encontrar um lugar para estacionar o carro se usa o símbolo do ChoKuRei. Achei um pouco estranho, não senti que tivesse muito a ver comigo, mas como dou sempre o benefício da dúvida, experimentei. Confesso que não gostei muito, ChoKuRei, ChoKuRei, à procura de um lugar.

E entretanto mudei para “Pai, onde tens um lugarzinho para mim?”. Gostei mais, mas ainda assim não estava completamente satisfeita, não me sentia completamente bem.

Experimentei e confirmei que o que funciona para mim é “Pai, para onde queres que eu vá?” e posso até acrescentar qualquer coisa como “É claro que não me importava nada de ter um lugarzinho ali naquele espaço mesmo ao lado de onde preciso de ir, mas tu é que sabes o que é melhor”, e grande parte das vezes é mesmo esse o lugar que me espera, mas mesmo quando não é esse é outro igualmente bom. E a sensação que tenho é sempre tão boa, tudo flui tão naturalmente, e o encaixe é sempre tão perfeito que não tenho dúvidas de que este é o meu método.

Portanto não é UM LUGAR para mim, que me sirva ou onde eu me encaixe, mas é O MEU LUGAR, aquele que é o melhor para mim, o que está à minha espera.

Não sou eu a pedir para me encaixar num sítio qualquer, o desenrasque mais próximo, não eu a pedir algo em concreto, mas eu a entregar-me à sabedoria maior e ao que tem para mim.

Não eu a pedir coisas específicas mas eu a pedir para ser conduzida ao meu lugar, ao que me pertence, ao que foi feito para mim.


É quase como comprar sapatos, se eu calço o número 36 e até posso em algumas ocasiões calçar o 35, embora um pouco justo, ou o 37, embora fique um pouco folgado, quando peço “Onde queres que eu vá?” (não algo que me possa servir mas o que for a minha medida exacta) vou sempre parar ao 36 e tudo se conjuga da forma mais harmoniosa.

E como isto todo o resto na nossa vida, se em vez de nos preocuparmos excessivamente e querermos controlar tudo nos deixarmos conduzir pelo divino, se deixarmos fluir, vamos sempre ter ao lugar perfeito.


P.S. Não, embora também seja vermelho, este não é o meu carro, mas eu não me importava nada que fosse!

(Imagem: Viper SRT-10, Poster)


Friday, July 06, 2007

 

Se é Verão, por que não há sol? Um conto de (des)encantar

Um dia, não muito distante, numa terra muito próxima, um menino acorda no seu quarto protegido e prepara-se para iniciar um novo dia.

O mesmo ritual de sempre: o banho, o pequeno-almoço e o grosso fato de protecção que lhe envolve todos os membros. Como acessório final a máscara, pesada e incómoda, tapando-lhe a boca e o nariz e deixando apenas dois pequenos orifícios tapados com lentes através dos quais podia espreitar o que o rodeava.

Sempre foi assim a sua vida, desde que nasceu. E sabia que seria assim até ao fim dos seus dias, se não fosse ainda pior. Mas estava conformado, afinal, viver é tão bom, mesmo sendo atrofiado por um fato insuflado que lhe tolhe os movimentos.

Chegou a pensar em sair à rua sem o usar, queria tanto sentir o vento na pele, saber qual a textura daqueles espetos secos e agrestes que brotavam do chão árido… Mas sabia que fazer isso significaria morte certa, porque o ar contaminado não o pouparia dois segundos que fosse.

E assim se resignou, mais uma vez, ao isolamento do seu mundinho insuflado e aprisionante.

Mas este dia foi diferente dos demais. Mal saiu de casa, todo atafulhado, deparou-se, através dos orifícios enrigecidos que lhe dificultavam a visão, com um objecto estranho a seus pés. Parecia antigo, alguma espécie de relíquia… uma asa, um bico, uma tampa… mas um pouco empoeirado. Que seria aquilo? Um bule de chá (mas mais pequeno e horizontal)? Uma molheira? Pegou-lhe desajeitadamente, as luvas protectoras impediam-no de fazê-lo de outro modo, com a intenção de lhe afastar as partículas de pó acumulado para tentar perceber o que era. Algumas fricções e… grande susto! Algo saiu do bico e se derramou à sua volta. E falou com ele! Era um vulto humano mas em tamanho gigante.
- Não tenhas medo – disse-lhe docemente – venho dar-te um presente. Podes escolher três desejos, e tudo o que pedires te será dado.
- Oh!... É mesmo? Sabes, há muito tempo que tenho um desejo que gostava tanto de realizar…
- Força, é só dizeres, estou cá para isso.
- Eu gostava tanto, mas tanto, de poder ver como viviam os meninos no passado, como era viver sem se sentir preso dentro de fatos metalizados e máscaras protectoras…
- Fácil, meu jovem, muito fácil. É só chamar ali o meu tapete mágico e lá vamos nós em direcção ao passado.

Dito e feito.
Pouco tempo depois estavam num campo verdejante, cheio de árvores e flores coloridas.
- Podes tirar esse fato, aqui não há problema nenhum.
- A sério?! Posso mesmo? Tirar o equipamento todo sem morrer de contaminação?!?
- Claro. Tira à-vontade. Ao menos uma vez na vida vais saber o que é ser um menino normal, que pode brincar livremente na natureza.
- Wow! Nem dá para acreditar!...
Tirou aquela parafernália toda e ficou extasiado a olhar em volta. Podia ouvir o som dos pássaros em directo e não através dos auriculares instalados no fato, sentir o sol directamente na pele, cheirar as flores, mergulhar as mãos na água cristalina de um riacho e levá-la ao rosto, respirar o ar limpo e perfumado… que alegria. Que tão grande felicidade.

Até o génio da lâmpada ficou sensibilizado. Todas as crianças deveriam ter direito a viver num mundo saudável, a usufruir de um planeta com um mínimo de recursos e condições…

E foi surpreendido nos seus pensamentos pela pergunta do menino:
- Se o mundo já foi assim tão belo e os meninos como eu podiam brincar ao ar livre sem problemas… como é que o mundo se transformou naquele cinzento, seco, quase deserto, todo poluído, infectado, contaminado, em que eu tenho de viver? Se nem mesmo quando é verão eu tenho direito a ver o sol?
- Olha, pequeno, não gostaria de ter de to dizer assim friamente, mas é aos teus antepassados que deves esse tipo de vida.
- Aos meus antepassados?
- Sim, precisamente esses.
- Como assim?
- Com as suas atitudes, com o seu total desrespeito pelo ambiente. Foram avisados muitas vezes, mas não deram ouvidos. Foram as descargas, os gases, os gastos excessivos de energia e água e outros recursos, a recusa sistemática da maioria em separar o lixo para reciclar, etc., etc., etc..

Ficou triste o menino. Tinha muita dificuldade em acreditar que os seres humanos, seus antepassados, tivessem tido esse nível de egoísmo.
- Olha, já sei qual vai ser o meu segundo pedido – disse cabisbaixo.
- Diz lá. Os teus desejos são ordens para mim.
- Quero que dês aos seres humanos desta época a consciência da importância de preservar e cuidar do ambiente para as gerações futuras.
- Tens a certeza de que queres gastar o teu desejo com os outros? Podias pedir o que quisesses para ti…
- Tenho a certeza. É isso que quero. Assim os outros meninos como eu talvez ainda tenham a possibilidade de viver felizes em comunhão com a natureza sem a necessidade de andar quase embalsamados em vida, metidos dentro deste quase aquário… É muito difícil. E é muito triste viver neste ambiente degradado, poluído, cheio de resíduos de toda a espécie por toda a parte, sem flores, sem árvores, sem cores, sem ar decente para respirar…
- Está bem, tu é que sabes. Vou ver o que posso fazer. Eles são muitos, e resistentes… Mas eu vou esforçar-me por dar-lhes essa consciência. E o teu terceiro desejo, o que vai ser?
- O meu terceiro desejo é acordar de manhã e perceber que esta vida e este mundo em que sou forçado a viver não passam de um sonho mau.
- Está bem visto. Assim será.

O menino acorda com os raios de sol a entrar pela janela e os pássaros a chilrear nos ramos das árvores.
- Oh! Que felicidade! Posso viver ainda neste mundo. E posso ajudar a despertar as consciências para que ele seja preservado.
Levantou-se resoluto e enérgico, cheio de vontade de cumprir esta que passou a considerar como a sua missão.



(Imagem 1: Fotografia autor desconhecido
Imagem 2: Fotografia autor desconhecido
Imagem 3: Fotografia Olga Correia
Imagem 4: Fotografia Olga Correia)

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