Saturday, September 23, 2006

 

Eu, do pecado da incoerência me confesso





Há dois versos de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que teimam, com alguma regularidade, em lembrar-me o meu nível de incoerência:



As pessoas sensíveis não são capazes de matar galinhas
Porém são capazes de comer galinhas.

Como isto se aplica a mim, e como eu gostaria que não se aplicasse. Tenho plena consciência de que se tivesse de matar para comer (galinhas ou qualquer outra coisa) rapidamente me tornaria vegetariana. Mas entretanto, enquanto não tenho de me confrontar com isso, vou-me safando tentando não pensar no assunto de cada vez que uma coxinha saborosa faz as delícias das minhas papilas gustativas.

Poderia chamar a isto muita coisa, tentar tapar o sol com a peneira, esconder debaixo do tapete, tentar enganar-me a mim própria, mas se calhar o mais correcto é mesmo chamar a coisa pelo nome: incoerência. Custa-me muito ter de aceitar isto, e conviver com esta realidade não é algo pacífico para mim. Tudo bem, somos humanos, temos direito a uma incoerenciazita aqui ou ali, mas ainda assim… Tenho de continuar a tentar encontrar uma solução para este meu problema existencial.

(Imagem: Fotografia Joel Sartore)


Comments:
Pois é minha cara, faço das suas, minhas palavras pois acontece o mesmo comigo e se calhar com a grande maioria. Temos realmente de saber conviver com isso, senão tanta coisa saborosa da vida passava ao lado.
Abraçço
 
Pedes uma solução! Converte-te em vegetariana. Mas se pensares bem, passa-se o mesmo com as plantas e algas...também têm vida! Bj
 
Carlos Carreira: Pois... O meu problema está em aceitar que para ser saboroso para mim tenha de ser tão terrível para outro ser vivo...
:)

Fátima Vinagre: Exacto. Já pensei nisso. Mas a diferença parece que está no sistema nervoso, que as plantas não têm, por isso não sofrem tanto, pensa-se. Pelo menos não berram de dor nem nos olham com olhos tristes...
:)
 
Aieeeee... tu não achas que já me chega a filha vegetariana? risos...

Mas, reconheço, a descoberta da comida vegetariana tem sido extraordinária, e mais criou às duas um outro objectivo comum.

rosario
 
Rosário: Pois... Se calhar não chega, não...
Eu ainda não consegui, mas ando há muito tempo a pensar nisso...
 
Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?