Sunday, June 11, 2006

 

Com uma palavra se eleva, com uma palavra se destrói...


Outro dia no McDonalds (vez por outra faço umas loucuras dessas) fiquei deprimida com a conversa da vizinha do lado. Estava ela com uma criança e dizia-lhe, alto e bom som, impossível não ouvir:
- Olha que te arranco a cabeça do pescoço!
Não me contive:
- Credo, senhora, que agressividade!... Fiz acompanhar a frase de um sorriso, até para mostrar que a intenção não era crítica mas de alerta. Lá me explicou que era só a brincar, porque ele era “difícil para comer”. Repliquei que se lhe arrancasse a cabeça é que não comia de certeza, e fiquei a pensar no que aquela criança podia estar a sentir, em como aquele comentário (e sabe Deus quantos do mesmo género) se podia repercutir no seu presente e no seu futuro, e no efeito que os pais têm sobre os filhos, muitas vezes sem a menor noção.

Pouco tempo depois, trabalhando num café, chamou-me a atenção a atitude amorosa com que uma criança, talvez de uns sete anos, se abeirava da mãe e a abraçava com carinho. Seria uma cena da máxima ternura se a seguir não viesse a reacção da mãe. Poderia supor-se que qualquer mulher adoraria, e até ficaria babada com uma atitude semelhante. Mas seria uma suposição errada, e eu estava infelizmente equivocada, porque nem todas as mães ficariam embevecidas. Esta não ficou. Pior, não só não agradeceu o gesto de ternura como não o retribuiu e ainda para cúmulo o rejeitou com indiferença:
- Ó pá, larga-me! Precisas de estar sempre agarrado a mim?!?
E o filho responde-lhe:
- E tu precisas de ficar sempre zangada comigo cada vez que te abraço e dou beijinhos?...
Fiquei com uma enorme vontade de chorar. Senti uma tristeza tão grande. Há pais que não sabem valorizar as bênçãos que recebem. E, mais uma vez, qual será o efeito que esta rejeição materna, pelos vistos constante, provocará nesta criança, no presente e no futuro?

Para culminar esta fase de episódios tristes com crianças, ouvi um destes dias outra mãe atentar fortemente contra a auto-estima da filha, de uns dez anos, no volume máximo e no tom mais agressivo que deve ter conseguido:
- Tu também não tens jeito para nada!

O que vai ser da futura geração? Como podem estas crianças encarar o futuro, e depois vivê-lo, com autoconfiança, com força e recursos internos para se sentirem realizadas e contribuírem de forma positiva para a construção de um mundo melhor?
Estou seriamente preocupada…

(Imagem: Edward Munch, O Grito)

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