Friday, June 30, 2006

 

Talvez ainda a propósito de caminhos e caminhantes...



Esta semana, em conversa com uns amigos, vi-me a repetir uma frase que a minha avó me dizia muitas vezes: “Onde tiveres de ir, não podes fugir”. Na altura não concordava muito com ela, mas agora afirmei-a tão prontamente porque é aquilo em que eu acredito. E entretanto, agora pensando nisso, parece-me que devia ter esclarecido melhor. Se calhar até podemos fugir, sim, se fizermos muita força. Não fugiremos, é certo, se for essa a nossa predisposição, se aceitarmos o plano divino para a nossa vida, se seguirmos as mensagens divinas colocadas no caminho. Mas a nossa atitude pode não ser de aceitação, pode ser de recusa, de rejeição, de obstinação cega num outro caminho escolhido por nós, e nesse caso, acredito que Deus não é impositivo nem autoritário, nem obriga ninguém a fazer o que não quer. Embora ele tenha o plano perfeito para nós, aquele que nos realizaria mais e nos tornaria mais felizes, nós podemos não o querer cumprir, podemos rebelar-nos, estrebuchar, bater o pé, fazer birra, dizer que não, e ele não se imporá. Nesse caso, não cumprimos o seu plano, claro está, ficamos à deriva, mas a opção é nossa. Também podemos, a dada altura, pensar melhor e dizer “Olha Deus, afinal já quero cumprir o teu plano” e ele poderá responder-nos “Olha, amigo, agora é tarde, o autocarro já passou. Entra nessa farrunca velha, é o melhor que se pode arranjar, nesta altura do campeonato”. Nesse caso, não nos poderemos queixar, é uma questão de justiça, se quisemos o livre arbítrio para dizer não ao que Deus queria para nós, temos de estar preparados para aceitar as consequências e viver com elas.

A escolha é nossa. Eu já fiz a minha, rendo-me incondicionalmente à sabedoria divina, e neste contexto aceito as flores e os espinhos como parte da minha aprendizagem e da minha caminhada para a minha maior realização e felicidade. E sinto que nunca estou sozinha e que tudo tem sentido e nada acontece por acaso.

Como diz uma senhora que muito admiro e que tenho a honra e o prazer de conhecer, Maria Flávia de Monsaraz, a melhor atitude a ter é a de “fazer surf com a vida”, que é como dizer: não remar contra a corrente, contra o fluir da vida. Quando a onda vem alta o melhor é segui-la, aproveitá-la, fazer surf; quando vem baixa, o melhor é baixar, proteger, respirar, preparar e esperar pela próxima. É uma questão de saber adaptar-se aos ciclos da vida, aos sinais dos tempos, às ondas do mar. E elas levam-nos à praia onde temos de ir parar.

Mas é claro que nem todos somos obrigados a enfrentar as ondas da mesma maneira, e em vez de nos deixarmos levar tranquilamente para a praia também podemos esbracejar e contorcer e acabar esfacelados contra as rochas. Obviamente, neste segundo caso, sem cumprir a missão da nossa vida.

Talvez fosse bom, entre tantas correrias diárias, arranjarmos um tempinho para analisar o que realmente é importante para nós, que rumo queremos dar à nossa vida, o que estamos realmente a fazer com esta dádiva que recebemos e que tantas vezes desaproveitamos, com que atitude queremos percorrer o caminho…


(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?