Sunday, July 16, 2006

 

O Alimento Vital


Embora os tempos sejam essencialmente de egoísmo, de materialismo, de cada um por si e salve-se quem puder, ainda há histórias tocantes de solidariedade e amor ao próximo.

Passou-se com um casal amigo dos meus pais, e só há pouco tempo tive conhecimento do episódio que me emocionou e me levou a ter por eles uma grande admiração.

A mulher da história é distribuidora de peixe, e a dada altura, de tão repetidamente se dirigir ao mesmo local de abastecimento, começa a reparar num velhinho que por ali anda a pedir uma moedinha para comer uma sopa e com sacos de plástico dentro das botas a fazer de meias. Começam a conversar. Ela começa a trazer-lhe comida todos os dias. Tornam-se amigos. Quando ela ficou grávida ele não mais a deixou carregar ou descarregar coisa alguma, ajudava no carregamento e enquanto ela fazia a volta de distribuição ele arranjava boleia para estar no final do percurso e ajudar a descarregar as caixas. Um dia pediu-lhe se o deixava tomar banho na sua casa, porque há tanto tempo não sabia o que isso era. Ela enterneceu-se e decidiu levar o velhinho para viver com eles. Enfrentaram muitas críticas, muitas tentativas de dissuasão, muitos alertas amedrontadores… mas tudo ultrapassaram com determinação. “Eu fiz o que me mandava o meu coração”, diz ela. E o velhinho ficou a viver com eles. Tinha uma magra pensão de que eles não se queriam servir, nem para alimentação, nem para roupas, nem para médicos ou medicamentos. E o velhinho juntou o dinheiro e comprou-lhe um fio de ouro, com uma medalha. Passaram-se dezasseis anos do mais salutar e amoroso convívio, sendo o velhinho uma presença marcante para os dois filhos do casal, ajudando, inclusivé, a tratar do mais novo quando nasceu. A única coisa que este homem pedia a Deus, repetidamente lho dizia, era que na recta final não precisasse de dar muito trabalho àquela mulher que tão generosamente o acolheu. E Deus atendeu as suas preces, quando o momento se aproximou, sentado a aconchegar a lareira da família, ele chamou a mulher que estava por perto e disse-lhe: - Eu adoro-te!... E no momento seguinte se foi.

Esta mulher ainda hoje usa o fio de ouro com a medalha, e os olhos rasos de água revelam a ternura e a saudade quando fala dele. Diz que se tivesse oportunidade fazia tudo de novo.

Abençoada seja por ser uma luz para o mundo.


(Imagem: Fotografia Olga Correia)

Comments:
Que história linda...
Se todos conseguissemos ter um coracao tao grande e tao puro...
Tudo seria mais simples :)

Beijinhos e obrigado pela visita :)
 
Olha, afinal ainda não estou totalmente insensível... porque esta história comoveu-me.
 
Bem... Até fiquei com uma lagrimita no canto do olho...
O mundo não é só feito de egoísmo, e é por isso mesmo que viver vale tão a pena.
 
Mamaíta: Todos temos um coração tão grande e puro, mas costumamos trancá-lo a sete chaves. É só uma questão de o libertar.

Dulce: Que bom. Quando nos deixamos sensibilizar estamos no caminho da nossa essência.

Rosa: Muito verdade. Não é só egoísmo e vale mesmo "tão a pena".
 
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