Sunday, August 20, 2006

 

O lobo bom e o lobo mau



A propósito dos dois últimos textos sobre amor / necessidade / expectativa, dei por mim a pensar, um destes dias, que queria livrar-me de todo o tipo de necessidade. Porque a necessidade é uma prisão, porque nos torna dependentes, porque nos faz sentir incompletos. E logo a seguir percebi como era um disparate o que estava a pensar, nós não podemos simplesmente “livrar-nos”, sem mais nem menos, do que está dentro de nós.

E ocorreu-me que com isto se deve passar o mesmo que com a história do lobo bom e do lobo mau. Li um dia, não sei onde, sobre um pai que explicava a um filho que dentro de nós existem dois lobos, o bom e o mau, que estão sempre em luta um com o outro.
- Então e qual é que ganha, pai? – Pergunta o filho.
- Ganha aquele que tu alimentares mais vezes. – Responde-lhe o pai.
Parece-me que a lógica é a mesma. Se lutarmos contra o mau, se o tentarmos expulsar, estamos, de certa forma, a alimentá-lo e ele torna-se mais forte. Se, pelo contrário, lhe negarmos o alimento (a atenção, a concentração nele) ele enfraquecerá e, quem sabe, definhará.

Então é isso, acho eu, não podemos “livrar-nos” da necessidade a não ser alimentando a abundância. Isto é, alimentando as coisas boas em nós, gostando cada vez mais de nós próprios, e, absolutamente fundamental, valorizando cada vez mais aquilo que temos e não nos concentrarmos naquilo que pensamos que nos faz falta. Em suma, alimentando o lobo bom.


(Imagem: Susan Seddon Boulet, In The Company of Wolves)

Comments:
Olga, sem me querer repetir, quero dizer apenas obrigado pelos lindos textos que tens colocado no teu blog. Este do lobo mau tocou-me particularmente, até porque infelizmente nos cruzamos muitas vezes com pessoas que gostam de "alimentar" o lobo errado... Pior também são aqueles que usam a nossa “energia” para o alimentar.
Helena
 
Obrigada Helena, simpática, como sempre.

É bem verdade que há muita gente a alimentar o lobo mau e que gostaria de usar a nossa energia para o conseguir. É um desafio para cada um de nós tentar evitar dar-lhes essa energia extra, talvez se consiga não reagindo da mesma forma e não dando muita atenção. Porque aquilo para onde dirigimos a nossa atenção leva a nossa energia, se escolhermos não o fazer não alimentamos a negatividade do outro, penso eu. Também sei que não é fácil, somos apenas humanos. Mas vale sempre a pena irmos tentanto...

Beijinhos
 
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