Wednesday, August 09, 2006

 

Uma mensagem de tão grande amor tinha mesmo de ter como símbolo a cruz?




Ainda na sequência dos símbolos e do que isso diz de nós, e ainda a propósito da imagem que fazemos de Deus, ocorreu-me outra questão que tem a ver com a forma como o simbolizamos. A cruz, símbolo tão generalizado e representativo de Cristo, também revela, no fundo (ou talvez não tão no fundo), o que nós pensamos que foi a sua mensagem, a sua missão por aqui, a lição que veio ensinar. É capaz de ser a maior lição de amor que se conhece, e como é que nós o identificamos? Com o símbolo da crucificação, o símbolo do sofrimento.

A cruz é um instrumento de tortura. É usada para lembrar o que ele sofreu pela humanidade. Que ele sofreu muito parece-me um facto inegável, e que esse facto deve ser lembrado também, mas com isto corremos o risco de perder de vista o essencial. A propósito do filme A Paixão de Cristo, diz-me um dia um jovem católico (e professor de Educação Moral e Religiosa Católica):
- Agora percebo ainda melhor como foi grande o sofrimento de Jesus.
- Só isso? – Pergunto-lhe.
- Como assim?
- E como foi grande a lição de amor que veio ensinar?

Por que optamos por lembrar o seu sofrimento em vez de lembrar o seu amor? Por que nos focamos no facto de ele ter sofrido por nós em vez de nos centrarmos no muito que amou e na lição que nos quis ensinar? Ele passou a vida a ensinar o amor. Como se sentirá agora sempre identificado com a dor?

Correndo o risco de ser acusada de mais um atrevimento (ou de quaisquer outras coisas que lhe possam querer chamar), não posso deixar de manifestar aquilo que penso. Parece-me que a mensagem de Cristo anda a ser distorcida. Sim, ele sofreu; sim, foi torturado numa cruz; sim, foi pela salvação da humanidade. Mas foi por AMOR, e é isso que deve ser lembrado, valorizado, aprendido, seguido…


(Imagem: André Burian, Crucifixion)

Comments:
Acho que tem alguma coisa relacionada com a consciência pesada que se tem por não fazer aquilo que Ele ensinava...
 
...ou pelo sentimento de culpa que parece ser o grande "forte" da religião católica.

Helena
 
Tim_Booth: És capaz de ter razão. Uma coisa é pregar, outra é fazer aquilo que se prega. Por isso quando ouço alguém dizer que é “católico praticante” dá-me sempre vontade de perguntar se praticante é ir à missa todos os domingos ou pôr em prática os princípios cristãos na sua vida diária. E também me lembro sempre da parábola do bom samaritano, uns dão importância aos títulos, outros aos actos.

Helena: Também é possível que tenhas razão. Já que falas nisso, e pensando no assunto, realmente de todas as celebrações a que já assisti em diferentes igrejas, em nenhuma eu vi acentuar tanto o pecado e a culpa como na igreja católica. É uma pena. Optam por acentuar o que é negativo em vez de exaltar o que é positivo.

Beijinhos aos dois.
 
Gostei... gostei, gostei. Acho que disseste tudo.

rosario
 
Rosário: Obrigada!
:)
 
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