Friday, October 20, 2006

 

Coisas pequenas que dizem muito




Um casal de namorados num café.
Ela dá-lhe um beijo. Ele não reage. Ela manifesta-se:
- Então?!
E nesta pequena palavrinha vai tanta informação.

a) Revelou que o facto de ela lhe dar um beijo (e aqui pode substituir-se por qualquer outra coisa), na sua óptica, o obriga a corresponder. É como se dissesse “Então, como é? Dei-te um beijo e não me retribuíste?! Não sabes que é suposto?” (já para não dizer obrigatório…). Subentende-se também que não lho deu (apenas) pelo prazer de lho dar mas pela expectativa de o receber de volta.

b) Não o tendo recebido, reclamou-o, não com ternura, carinho e serenidade mas com agressividade e irritação. Não respeitou o seu tempo, o seu espaço, a sua vontade, não aceitou que nem sempre apetece dar um beijo e que isso em nada põe em causa o amor e a relação. Amor para ela significa cobrança, obrigatoriedade, quer apeteça quer não.

c) Com esta atitude revelou também o seu medo e a sua insegurança. Porque aquela palavrinha, naquele tom, é também o mesmo que dizer “Então, o que se passa, já não me amas?” deixando subjacente o medo de que seja essa a realidade. Se estivesse segura e tranquila poderia, sem receios e com naturalidade, aceitar que nesse momento o beijo não viesse sem se sentir posta em causa.

d) Mostrou a necessidade de controlo, de sentir que domina o outro, a necessidade de garantir que ele aja de acordo com os desejos dela. A necessidade de sentir que ele está preso. Talvez não saiba que o amor só existe e se desenvolve em liberdade.

e) E, se considerarmos que a parte revela o todo, o incidente mostrou ainda que aquela relação não se baseia no respeito e na aceitação dos estados de espírito do outro (e provavelmente de outras coisas), condição essencial para uma relação feliz, saudável, construtiva, enriquecedora…

(Imagem: Gustav Klimt, The Kiss (detail))


Comments:
Fantástico post. Tal e qual o que eu penso também... Lindo.

Fica bem.
 
Também penso o mesmo.
 
Olga, são coisas pequenas que dizem muito, sim. Infelizmente, a maioria das pessoas encara o amor como um capital a ser empregado, para que renda altos juros... :(
 
ninguen e de ninguem...
o namorado, o amante, o marido, os filhos nao sao nossos - passsam pelas nossas vidas podemos ama-los mas nada exigir q o amor e assim mesmo; se eles tambem nos amarem , dar-nos-ao tudo , na medida certa.

um beijo
 
A Mónada: Obrigada.
:)

Fátima Vinagre: É bom saber que somos vários...
:)

Flávio: Verdade. E quem assim pensa acaba por ter de pagar por isso um alto preço, até aprender a lição do verdadeiro amor...
:)

Greentea: "Ninguém é de ninguém", grande verdade. É uma lição difícil mas fundamental. Tal como aprender a não exigir nada. O esforço de aprendizagem é grande, mas os frutos são tão bons...
:)
 
Um beijo, um abraço, um toque, só atinge a unidade, a sintonia, quando estão reunidos todos os elementos necessários. Com palavras, sem palavras, não importa em que circunstâncias, o momento "mágico" só acontece, ou seja, é vivido, experimentado na sua unidade e simplicidade natural, quando conseguimos escutar o que a onda de vida nos oferece naquele instante. Aí, qualquer sinal de dúvida de como agir perante a situação dissolve-se quando permitimos ser com toda a nossa luz.

Na vida, é preciso saber ver, escutar, silenciar, sentir, e simplesmente SER... tudo o resto acontece para nós na devida proporção...
 
Lumen Origine: "...saber ver, escutar, silenciar, sentir, e simplesmente SER... tudo o resto acontece para nós na devida proporção..."
E nós costumamos deixar entupir todos os canais por tantos tipos de poluição... o que também dificulta a noção da proporção...
:)
 
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