Tuesday, October 24, 2006

 

Como o rio




O rio corre para o mar. Parece que é uma realidade inegável. E supõe-se que sabe que corre para o mar, que o quer fazer e que o faz com prazer. Não é fácil conceber o rio a tentar agarrar-se às margens e aos arbustos para não seguir o seu caminho. É a missão da sua vida, ir ao encontro do mar e nele se diluir, tornar-se maior, mais profundo, mais tudo…

Nós somos como o rio. O nosso curso também tem por objectivo levar-nos a cumprir a nossa missão, a atingir a nossa maior realização, a ser mais, melhor, maior… Seria de supor que, tal como o rio, o fizéssemos com prazer, entrega e serenidade, seguindo as curvas do percurso, contornando as pedras e os troncos caídos e a cada obstáculo vencido tornando-nos mais fortes, mais sábios e ainda mais felizes.

Mas não. Reside aqui a nossa grande diferença. Nós, seres humanos, supostamente dotados de grande inteligência, não conseguimos muitas vezes perceber as verdades mais simples (e também mais importantes). E rebelamo-nos contra elas, recusamo-las, agarramo-nos desesperadamente aos ramos e às pedras do caminho para não seguirmos em frente. Esperneamos e estrebuchamos e dizemos que não. Conseguimos com isto dois grandes feitos: ficamos esgotados e atrasamos a chegada.

A sorte é que o Universo é paciente e arranja mil e uma formas de nos ensinar as nossas lições. Convém não sermos muito casmurros para que essas formas não tenham de se tornar drásticas. E se quiséssemos mesmo ser bons alunos aprendíamos logo à primeira a seguir o exemplo do rio e dispensávamos as outras mil.

(Imagem: Troy & Mary Parlee, Mountain River in Spring)

Comments:
Olga, sabias que já escrevi um texto bem semelhante a este teu? Embora sejamos rios, muitas vezes é como lagos que nos comportamos...
 
Acho que os Delfins também já disseram qualquer coisa assim parecida! :D
 
Rio? sim também me rio, e faz muito bem... aconselho..


Cumprimentos do Embalador

Nota: O Embalador também é poeta! mas não digas a ninguém!

Cumprimentos do Embalador
 
Flávio: "Embora sejamos rios, muitas vezes é como lagos que nos comportamos..." Excelente o confronto do rio com o lago. Muito bem visto e muito claro.Gostei.
Já procurei o teu texto sobre o assunto mas não encontrei.
:)

Rosa: Parece que sim...
Que falta de originalidade :D
:)

O Embalador de Codornizes: Com que então o Embalador, para além do sentido de humor, também tem sentido poético. Gostei de saber. Fica descansado eu não vou dizer a ninguém, fica aqui o segredo bem guardado!
:)
 
Dizes que "Não é fácil conceber o rio a tentar agarrar-se às margens e aos arbustos para não seguir o seu caminho." e quando ele invade terras, casas e devasta campos de searas, acaba com as colheitas, arrasa populações? Aqui no Ribatejo, quando cai uns pingos, a água do rio Tejo transborda para as margens e provoca verdadeiras catástrofes! A água chega a atingir a altura das árvores e dos postes de electricidade.
Quanto ao restante texto concordo mais uma vez contigo. Mais, ainda bem que por vezes os ramos se partem! Bj
 
Fátima Vinagre: O curso do rio e o agarrar-se às margens é uma metáfora para ilustrar a nossa própria atitude perante a vida e o nosso caminho, mostra aquilo que é natural no rio e que devia ser natural em nós. Invadir e devastar já entra noutro domínio. Não é propriamente algo natural, mas acredito que estes desvios também não acontecem por acaso.
"Ainda bem que por vezes os ramos se partem!" Gostei dessa!
:)
 
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