Saturday, January 13, 2007

 

Fazer o Céu na Terra






A propósito de um post do António Rosa, de um comentário que a Maria A. lhe fez e de uma conversa com o Lumen.

Contexto:

António Rosa cita André Louro de Almeida e remete para a leitura dos textos deste autor, sugerindo leituras em grupo.
E antes de prosseguir transcrevo a frase que mais me tocou:

“O que é que eu vim fazer à Terra?” – Vieste fazer o céu! O resto são detalhes! (A.L.A.)

A Maria A. comenta:
“… numa pequena vila de província, simplesmente não há grupo, nem de dois. O que há à nossa volta são pessoas tradicionalistas a quem isto não diz nada, com quem não se pode falar sobre estes assuntos.
(…)
É também por isso que há dias (num outro comentário), pedi um esforço (de todos os que escrevem sobre estes temas) no sentido de uma linguagem mais acessível, para neófitos, explicando estas coisas de modo mais concreto.
(…)
Mas como fazer essa abordagem quando por um lado os possíveis interlocutores estão pouco receptivos e por outro lado nós próprios não sabemos descodificar e apresentar de modo credível toda esta informação?

Porquê este abismo entre uns e outros? Por que é que, para estes assuntos, só há universidades e jardins de infância, sem os outros graus intermédios e indispensáveis?

Eu já fui professora e tinha que fazer um esforço para descer ao nível dos meus alunos, tornando-lhes compreensível o que para mim era evidente.
(…)”


A minha visão:

Fazer o Céu na Terra, na minha perspectiva, passa por algumas fases fundamentais:

a) Receber informação
(que pode ser adquirida das mais variadas formas, através de pessoas, de livros, de intuições, etc.);

b) Sentir a verdade da informação
(ver se no mais fundo, ou no mais alto, de nós mesmos sentimos que isso é verdade, e se assim for, integrá-la no nosso sistema de valores e de crenças);

c) Viver a teoria
(aplicá-la na nossa vida, no nosso dia-a-dia);

d) Transmiti-la aos outros
(pelo exemplo e / ou pela palavra).

Embora todas as fases sejam fundamentais, creio que fazer o céu na terra só se concretiza verdadeiramente a partir da fase c), na fase da aplicação prática, as fases a) e b) são apenas de preparação, de procura do caminho, da decisão de o percorrer. Porque a proposta é fazer o céu na terra, não apenas saber que existe ou teorizar sobre isso. E, a partir daí, a partir da vivência dessa realidade, dessa ligação com o céu, a partir dessa experiência interna e individual, há a responsabilidade de o transmitir aos outros.

E neste ponto já pensei como a Maria, que existe um grande fosso entre os que muito teorizam sobre as questões e os que ainda não despertaram ou que querendo despertar não encontram pontes entre o discurso e a sua vida diária, as formas como na prática, na sua vida quotidiana, podem viver os princípios divinos. Em conversa com o Lumen cheguei a manifestar a opinião de que era preciso colmatar essa lacuna, e nessa altura inclinava-me para acreditar que eram os teorizadores que deveriam adaptar um pouco a sua teoria à prática para ajudar quem ainda não iniciou o caminho a perceber como se pode fazer. Algo semelhante ao que a Maria também pede.

Mas neste momento penso de maneira um pouco diferente. Ainda acredito que há realmente um grande hiato entre a teoria, muitas vezes difícil de entender pela maioria, e a demonstração da aplicação prática no quotidiano das pessoas. Só que agora já não penso que os que desenvolvem as teorias tenham propriamente a responsabilidade de fazer essa ponte. Acredito agora que cada um tem a sua função, uns de apresentar as teorias, e outros de as absorver, interpretar e adaptar a uma linguagem que as pessoas que estão noutra onda possam entender com facilidade. Portanto, acredito que existem os que apresentam as teorias e os mediadores, os fazedores de pontes, que depois mostram como elas se aplicam.

E se queremos ser entendidos, se queremos, ou sentimos que devemos, servir de ponte, se queremos que as pessoas mais ligadas à materialidade entendam a perspectiva mais espiritual de abordar a vida, temos de fazer as ligações com aquilo que elas conhecem melhor, com aquilo com que mais contactam no dia-a-dia. Então parece-me que o caminho mais eficaz é o de apresentar descrições de situações do quotidiano, experiências, vivências, reflexões sobre o que acontece e se observa no dia-a-dia, connosco ou com os outros, e que podem servir como exemplo de como se pode aplicar na vida aquilo em que se acredita. As parábolas são outra hipótese, e costumam ser muito eficazes.

Porque é normal que se ouça:
“Isso parece interessante mas não tem nada a ver com a minha vida, eu tenho de trabalhar, de cuidar da família, de resolver questões básicas…” ou então “Isso é tudo muito bonito, mas como é que se aplica???”
Penso que o grande desafio está em tentar ajudar a perceber que a vida espiritual não está para além da vida quotidiana mas na vida quotidiana.

E ainda voltando ao comentário da Maria, só mais três coisas:
“Mas como fazer essa abordagem quando por um lado os possíveis interlocutores estão pouco receptivos e por outro lado nós próprios não sabemos descodificar e apresentar de modo credível toda esta informação?”

a) Não podemos interferir sobre a receptividade dos interlocutores, só estar disponíveis para quando, cada um deles no seu devido tempo, se sentir preparado e o Universo os trouxer até nós, para então, da melhor forma que conseguirmos e da forma como formos guiados, chegar até eles;

b) Se nós próprios não sabemos descodificar a informação não a podemos apresentar a ninguém. Não podemos querer ensinar aquilo que ainda não sabemos. Temos de nos dar tempo para amadurecer a questão, sentir aquilo como verdadeiramente nosso, integrá-lo no nosso sistema, vivê-lo, e nessa altura vamos saber como transmiti-lo, porque nos vai sair do sítio certo, do coração e da alma;

c) “Apresentar de modo credível” não precisa de ser uma preocupação, primeiro porque estas questões não são para se perceber com a mente racional, por aí dificilmente lá chegamos; depois porque se nós acreditamos verdadeiramente no que dizemos, se o pomos em prática na nossa vida, se está entranhado no nosso ser, a credibilidade sai-nos de todos os poros, e o exemplo torna-se a melhor e mais eficaz forma de transmitir aquilo em que acreditamos.


"A tua missão é ajudares-me. Como? Reconhecendo que terás de voltar a mim, e trabalhando para que outros façam o mesmo reconhecimento." Sananda (citado por António Rosa)

Enfim. Cada um tem a sua função, cada um desempenha o seu papel para a evolução deste mundo. E se estamos todos a remar no mesmo sentido, embora cada qual com o seu remo, então estamos todos no bom caminho.


(Imagem 1: M. Raenicke, Representation of Heaven and Earth According to the Babylonians, after a sketch by Jensen P.
Imagem 2: Hermann Hendrich, The Rainbow Bridge Connecting Heaven and Earth)


Comments:
Bom dia, Olga!
Não sei se a Maria A. leu o seu comentário no A.R., espero que sim e que tenha vindo aqui.
Há pouco eu estava mesmo a pensar nela, pensei escrever-lhe lá no blog do AR, mas vi o seu comentário...
Obrigada, querida Olga :)
Um grande abraço***
Já agora: :)
Maria C
 
Li o comentário, que agradeço, e que me ajudou a ver pelo menos uma parte da solução do problema. Restam contudo outras inquetações que agora não tenho tempo de expôr.
Procurarei voltar mais tarde.
Obrigada e um abraço.

Maria A.
 
Olga, o artigo é excelente. Parabéns.

Ainda não estamos habituados às canalizações ou catalizações de temas espirituais.

No entanto, de alguma maneira, compreendo a dificuldade da Maria.
 
Como faltava aqui uma Maria B, aqui vou eu:
Achei muito oportuno e bem explcado o "Fazer o Céu na Terra". A cada um, o seu pedacinho de Terra que lhe compete. Também, ainda não conquistamos os hectares todos que podem vir a ser nossos. A simplicidade com que encararmos os outros, trazem-nos as repostas e fazem-nos chegar até eles.

Olha, foi fácil chegar até aqui e nem te conhecia, alguém fez a ponte!

Um abraço da
Maria B
 
Maria C: Agradeço a visita e as palavras simpáticas. A vida tem destas sincronicidades...
Abraço também
:)

Maria A.: Também te agradeço a oportunidade que me deste de, a partir do teu desabafo, fazer uma reflexão sobre esta questão que já andava há algum tempo em embrião. Ainda bem que também te ajudou de alguma forma.
As inquietações de que falas fazem parte do processo, especialmente do processo de preparação, da fase de ligação. Diria, embora não me tivesses pedido opinião e intrometendo-me descaradamente, que te encontras em processo de amadurecimento, e nesta fase é preciso preocuparmo-nos mais connosco do que com os outros, no sentido em que temos de saber realmente em que acreditamos antes de nos preocuparmos em transmiti-lo a alguém.
Costuma dizer-se que quando o aluno está preparado o mestre aparece. Penso que se pode dizer também o oposto, quando o mestre está pronto os "discípulos" são conduzidos até ele.
És bem-vinda para voltares quando quiseres. Acho que é da discussão/reflexão que nasce a Luz.
:)

António Rosa: Obrigada pelo elogio.
É verdade que não estamos ainda habituados, mas vamos lá chegar, e sinto que não falta muito, está tudo a caminhar muito depressa.
A dificuldade da Maria é perfeitamente compreensível, claro, e sinto que de alguma forma providencial. Nada acontece por acaso.
:)

Maria B.: Obrigada por teres vindo, faltava-me aqui um ponte sem ti!
Obrigada também pelo teu elogio.
É certo que temos muito mais conquistas a fazer e que nem temos bem a noção do nosso potencial, mas vamos lá chegar, assim como dizes, com simplicidade e abertos às respostas.
Reforça-se a importância das pontes...
Abraço também
:)
 
Volto cá como prometi, para te agradecer as tuas palavras e continuar o meu comentário, forçosamente incompleto...(Que pena estarmos dependentes da linguagem, tão limitada para expressar o turbilhão de ideias, sentimentos, ânsias, dúvidas que por nós passam.

Não sei se interessa, mas procurarei esclarecer melhor alguns pormenores que contribuem para a minha frustração.
Começo por algumas frases-chave -"Fazer o Céu na Terra", "A vida espiritual não está para além da vida quotidiana, mas na vida quotidiana".
Estou totalmente de acordo e é isso que eu já procuro fazer, embora ainda com muitas falhas.
Mas até para isso (e apenas no aspecto pessoal), tenho necessidade de algum apoio, como leituras, contactos, bem como de uma certa abstracção de tantas conversas e vivências à minha volta. O que não é nada fácil: Até para ler (certos temas), comprar livros ou tirar textos da Internet é preciso escolher muito bem a ocasião, em que o marido ou outro familiar não venha dizer "lá estás tu com essas idiotices" ou "a perder o teu tempo". (Não se trata de pessoas totalmente materialistas, mas antes com uma espiritualidade pouco interior, do tipo catolicismo tradicional, mais ritual e dogma que vivência).
Muitas vezes preciso de esconder alguns textos e livros, que seriam alvo de troça.

Era também por isto que eu tinha necessidade (p/ me justificar e se possível partilhar) de poder apresentar estes temas de modo credível e compreensível racionalmente (na linguagem e NÃO SÓ - ver totalidade do coment. inicial).
Quando, na tentativa de fazer compreender as minhas buscas, convido à leitura de textos/livros sobre temas espirituais (mesmo mais compreensíveis), se tenho a sorte de que lhes peguem, o retorno são perguntas e comentários pertinentes, a que em geral não sei responder, do género: "Onde é que foram buscar essas ideias? O que é que prova que isso é verdade? Revelações de charlatães é o que não falta, cada um com as suas visões e os seus cursos ou consultas para vender".
E eu não apenas não sei responder, como por vezes interiorizo essas dúvidas, tanto mais que, na minha busca de algo mais prufundo, já fui vítima (há vários anos) da vigarice de uma seita pseudo-gnóstica (CEG) e não tenho uma capacidade intuitiva muito fiável. A minha "intuição" já me pregou algumas partidas, pelo que ainda preciso de passar pela análise lógica e mental.
A única certeza que tenho é a minha sede de conhecimento sobre tudo o que está para além do perceptível, bem como a minha pena que as respostas sejam ainda tão diversas, vagas, incertas e herméticas.

Resta-me pois procurar viver aquilo que compreendo e aceito, FAZENDO O MEU BOCADINHO DE CÉU, mas com todas as minhas limitações e entraves, enquanto aguardo os tais mediadores e fazedores de pontes que referes.

Tu já serviste de lanço de ponte, assim como o António, cuja linguagem é bem mais acessível que a dos textos que refere.
Mais haveria a dizer, mas o comentário já está XXXL.

Obrigada e um abraço.
Maria A.
 
Olga, és uma querida. Obrigada por fazeres a tua parte neste "jogo", Bjs doces
Vera
 
Maria A.: Claro que interessa.
Se é isso que já procuras fazer estás obviamente no bom caminho. Perdoa-te as falhas, só não as têm os seres perfeitos, penso que ainda não é o nosso caso, por mais potencial que tenhamos e evolução que façamos, somos humanos. Já é muito bom se formos fazendo cada vez menos falhas neste nosso percurso.

É muito natural, e positivo, que sintas necessidade de apoio, todos nós sentimos, mais numas fases do que noutras.

Há algo no teu comentário que me sensibiliza muito, o facto de teres de te esconder para não seres alvo de troça. E talvez até seja algo por que muitos tenhamos de passar, faz parte também da nossa evolução. Posso dizer-te que eu própria tive uma educação de base católica, mas cedo me apercebi de que não era esse o meu caminho. Frequentei outras igrejas, cheguei até a sentir alguma culpa por não conseguir “filiar-me” em nenhuma delas, até ao momento em que percebi que o meu caminho passava além das igrejas, e tudo se começou a tornar muito mais claro. Naturalmente que as pessoas ao redor questionam e contestam. No início incomodava-me um pouco, cheguei até a sentir necessidade de me justificar. Mas à medida que “crescemos” e que nos ligamos cada vez mais ao divino vamos aumentando a nossa fé de tal maneira e ganhando uma força tão grande que não há qualquer necessidade de justificação perante quem quer que seja. É quando nos sentimos assim fortes que conseguimos fazer uma coisa que é absolutamente fundamental neste processo: exigir respeito. É fundamental que o tenhamos pelos outros, mas muito, muito importante que o saibamos ter também por nós e que façamos os outros sentirem isso. Todos têm o direito de professar a fé que entenderem, mas não têm o direito de querer obrigar os outros a seguirem o mesmo caminho, muito menos de desrespeitar as suas escolhas. Portanto, Maria, mais uma vez não me pediste opinião mas eu vou dar-ta (é uma mania desgraçada que eu tenho!), eu diria que para poderes solidificar o teu processo precisas de fazer uma coisa fundamentalíssima: exigir, porque é um direito teu, que te respeitem. Isso para mim foi uma aprendizagem importantíssima, e, no fundo, começa em nós, começa por nos respeitarmos a nós próprios primeiro para que os outros nos respeitem depois. E esse respeito passa por aceitarmos que temos todo o direito de fazer as nossas próprias escolhas e que não precisamos de as andar a esconder de ninguém.

As expressões “apresentar os temas de modo credível e compreensível racionalmente” “na tentativa de fazer compreender as minhas buscas” indiciam que estás muito preocupada em justificar-te perante os outros, e isso, na minha perspectiva, não é necessário. A fé não se explica, sente-se. Quando me perguntam de onde vem a informação a ou b respondo que não é essa a minha preocupação, o que me interessa é que eu SINTO que é verdade, e isso para mim é tudo. O barómetro não é a razão mas o coração. Quanto mais nos treinamos a ouvi-lo mais fácil se vai tornando a comunicação, mais confiantes e seguros nos sentimos.

Ainda bem que as respostas são diversas, como dizes, porque os caminhos são muitos. O que é preciso é que cada um encontre o seu e respeite os dos outros.

Não fiques à espera de mediadores, eles poderão mostrar-te mapas ou ementas, emprestar-te alguma lanterna, mas a escolha é tua, o caminho é teu, és tu que tens de SENTIR qual é a tua verdade, respeitá-la (e fazê-la respeitar) e vivê-la. A Luz encontra-se dentro de ti. Tu és a tua melhor ponte!

Bem, se o teu era XXXL…

Abraço
:)
 
Fénix (Vera): E tu és um doce.
Obrigada por teres cruzado o meu caminho.
Abraço
:)
 
tudo pode acontecer tanto na pequena aldeia, como na grande cidade - em conversa com o doutor ou com o analfabeto, camponês, pastor das montanhas...
Numa pequena aldeia, em casa de familiares, uma parente viúva, que eu acabava de conhecer, começou a falar das suas vidas, do marido que falecera e entrava em contacto com ela e de muitas coisas mais. o final , pediu para não comentar porque nunca tivera esse tipo de conversas com os primos - apenas comigo. O Universo atrai para nós as pessoas e as situações próprias, aquelas pessoas a quem devemos dar a mão, a palavra, o abraço...

um beijo para ti
 
A questão dos textos simples é mais complexa do que à primeira vista pode parecer.

Nos mapas astrológicos das pessoas podemos perceber como é que funciona a sua mente, a natureza dos seus entendimentos e como recolhem informação, analisam e sintetizam as questões associadas ao entendimento. Gémeos, Virgem, Mercúrio e a Casa 3 são alguns dos posicionamentos a ter em conta para analisarmos esta situação.

Não havendo duas pessoas iguais, as suas escritas também não o são. E aqui a questão não é analisar a sua escrita, mas o seu potencial mental.

Na área espiritual, Portugal tem dado a conhecer nos últimos anos, várias pessoas com um talento especial para se dedicarem a estes assuntos, reunindo condições para serem orientadores espirituais.

Desde já, fica o aviso: não é o meu caso, pois não pretendo exercer essa condição de orientador espiritual. Não pretendo publicar livros meus. Se o fizesse seria na área da astrologia. Contento-me se, no meu quotidiano, consigo passar alguma mensagem.

No entanto, na minha condição de editor, tenho tido acesso a muitos textos. Muitos são impublicáveis, por não reunirem as condições necessárias a se transformarem em livro.

Noto que existe cada vez mais um forte apelo para as pessoas escreverem as suas experiências e conhecimentos nestas áreas espirituais. Para além desse apelo, essas mesmas pessoas acham, que o que escrevem deveria ser posto em livro pois, segundo elas, haveria muitas pessoas que o comprariam por se identificarem com o que está escrito. E enviam os seus “manuscritos” canalizados para a editora. Manuscritos caóticos, de difícil leitura, que nem nós – que estamos muito treinados a ler –, conseguimos perceber o conteúdo.

Muitas pessoas confundem o apelo para canalizar com o apelo para ensinar. Têm dificuldade em entenderem que, se canalizam, primeiro têm que eles próprios que descodificarem o que recebem, pois as suas mentes é que organizam o pensamento que lhes chega.

Quanto aos autores já existem entre nós, nem todos sentem o mesmo apelo.

Fruto da minha observação eu diria que tenho encontrado dois tipos de autores/terapeutas:

1) Os que se propõe ajudar a pessoa a entender e curar o seu próprio quotidiano aqui na Terra.

2) E os que se propõe falar de horizontes mais vastos, cósmicos, multidimensionais, tentando igualmente curar.

Sendo tudo espiritualidade, obviamente. São posicionamentos valiosos e ambos necessários.

É nestes dois grandes grupos que se concentra a escrita dos autores portugueses.

Temos que ter em atenção a cultura, informação e conhecimentos esotéricos profundos que cada autor possui.

Por exemplo, um texto escrito do André, possui características de enorme erudição que pode confundir algum leitor que não esteja habituado a referências em áreas tão variadas como a teosofia, cristianismo, budismo, quântica, física judaísmo, cabala, etc. Obviamente, nem todos os textos reúnem este nível de exigência. São textos belíssimos, é certo, que muito aprecio e que tento divulgar no nosso site “Nave Lusitânia”. Nem sempre são de fácil e imediata compreensão. Em contrapartida, o mesmo texto se estiver em forma de palestra num cd e se for ouvida pelo mesmo leitor, muda imediatamente de registo e existem reais possibilidades de ser profundamente sentido. Não escrevi a palavra “entendido”.

Um J.J. Hurtak também reúne estas condições enciclopédicas de poder ser menos acessível a uns quantos leitores. Um Rodrigo Romo, também, com agravantes acrescidas, de utilizar imenso a cosmogenia. São autores que também aprecio, mas que reconheço terem textos exigentes. Juntamente com o André, pertencem à categoria 2, dos tipos de autores/terapeutas acima mencionados. Mas o mesmo se pode dizer de obras sem autores declarados: o “Livro de Urântia” é um exemplo. O “Curso em Milagres” é outra das obras.

Há uma outra pessoa que tinha um blogue e que eu apreciava a sua escrita e que, tem o potencial de pertencer a este grupo. Deixemos o tempo passar para verificarmos se isso vai acontecer.

Os autores do tipo 1, - os que se propõe ajudar a pessoa a entender e curar o seu próprio quotidiano aqui na Terra – aplicam os seus vastos conhecimentos de psicoterapia para desenvolverem os seus processos de cura. Temos nesta área, os textos mais belos e eficazes que conheço. Correm o risco de serem repetitivos.

Isto para justificar que a ideia de se escrever simples é uma “ilusão”. Não há textos simples, pela simples razão de, nesta área não poderem haver.

Os temas, já de si, são tão transcendentes que simplificar ainda mais é quase uma vertigem e uma utopia.

Nós, leitores, é que temos que fazer a nossa parte, e o que devemos fazer foi muito bem explicado pela Olga no seu post, que nem me atrevo a repetir.

A nossa mente prega-nos umas partidas. E uma delas é dizer-nos mais ou menos isto: “Tu não consegues entender.” E, nós, em vez de pararmos, fazermos silêncio, descartarmos essa frase e iniciar tudo do princípio, ficamos agarrados a essa ilusão de “não sabermos”. Tudo porque fugimos de “sentir”

Se nos propusermos sentir esse texto, chegaremos lá, sem qualquer dúvida.

Se resistimos… não se consegue nada.

É o que mais fazemos: usar a mente para resistirmos à alma.
 
Olga,

Peço-te desculpa, e aos teus leitores, mas voltei a ler agora o que escrevi e notei havere algumas gralhas e uma ou outra "calinada" na gramática.

Lamento, pois deveria ter escrito com mais cuidado e calma.

Abraço.
 
Olá,

Gostei muito do post e dos comentários, já tinha seguido com atenção a troca de comentários original com a Maria A. e queria só dizer que concordo com quase tudo excepto com um ponto: acho que só existe necessidade de pontes que interpretem e expliquem as teorias quando as pessoas que desenvolvem as teorias a) não têm a capacidade de o fazer e/ou b) não têm vontade de o fazer. Isso não é de todo criticável ou sequer estranho, mas acho algo desonesto ser escondido atrás de um “não é o meu papel”, como se fosse um desígnio divino e não duas características terrenas – ou a falta delas. Para transmitir com simplicidade, com um fio condutor que permita a compreensão, é necessária uma boa organização mental e uma boa capacidade de comunicação. A mente às vezes é necessária, sim. Sente-se e entende-se com o coração, transmite-se também com ele, nomeadamente no que à empatia diz respeito, mas transmite-se melhor usando também a mente. Conciliar as duas coisas é possível, resulta muito bem, mas não é para todos. Por outro lado, para se “descer” ao nível do aluno é necessário "descer”, o que nem todos estão dispostos a fazer. Porque têm grandes desígnios universais a cumprir, não têm tempo nem paciência para as “pequenas coisas”, onde afinal Deus se manifesta.
Há espiritualistas que se compreendem, que se entendem, que se lêem e se faz luz – desde sempre. Para mim, esses são indubitavelmente os melhores. Esses sim, fazem diferença, a quem realmente faz falta a diferença – os que iniciam. Porque os outros, os que estão mais à frente, já sabem encontrar o seu caminho sozinhos, já se ouvem a si próprios.
É só uma opinião. :)

Um abraço,
Filipa
 
Maria A.: Só mais uma coisa…
(Qualquer dia ficas farta de me ouvir (quer dizer, ler) e nunca mais queres voltar ao meu blog… Peço desculpa pela insistência, mas sinto que tenho de te dizer mais isto.)

Nada do que algum mestre ou mediador te possa dizer é mais importante do que aquilo que tu sentes como sendo a tua verdade, aquilo que ressoa na tua alma e te faz sentir que é isso mesmo, que se fez luz, que é esse o caminho.

As pessoas só têm poder sobre ti se lhes entregares o teu poder, se te renderes às suas críticas e pedidos de justificações. Se, pelo contrário, te mantiveres firme nas tuas crenças, forte e determinada, assumindo aquilo em que acreditas, passam a aceitar-te, a respeitar-te e até eventualmente a considerar a hipótese de seguir o mesmo caminho. Mas mesmo que isso não aconteça, pelo menos deixam de ser um obstáculo no teu. E mesmo que até isso não aconteça, enfrenta os obstáculos e segue em frente, não fiques parada perante eles, não deixes que bloqueiem a tua caminhada, encara-os como oportunidades de aprendizagem e de crescimento. Vais ver que é mais fácil do que parece, e dá uma sensação tão boa.

O mais importante é que te respeites, antes de tudo, que te centres em ti e naquilo em que acreditas. O resto encaixa tudo por acréscimo.
:)
 
Wicky: Nas pequenas aldeias ou nas grandes cidades, completamente de acordo. Estas questões pouco têm a ver com o grau de instrução, o local de residência, o acesso a cultura, ou outras coisas que tais. Há pessoas consideradas analfabetas que são altamente espiritualizadas e também há pessoas muito instruídas intelectualmente mas espiritualmente analfabetas.

Também concordo que o “Universo atrai para nós as pessoas e as situações próprias, aquelas pessoas a quem devemos dar a mão, a palavra, o abraço...” Mas diria mais, nestes encontros sincronísticos e fantásticos, muitas vezes nós achamos que vamos dar algo a alguém que precisa e acabamos por ser também nós a receber tanta coisa, coisas que se tornam importantíssimas para a nossa evolução…
:)
 
António Rosa:

Certo, simplicidade é um termo relativo, depende muito das estruturas mentais de cada um. Mas há textos unanimemente reconhecidos como sendo de grande valor por conseguirem transmitir grandes verdades de forma muito simples, acessível a praticamente todas as mentes, independentemente da forma como funcionam.

“A questão não é analisar a sua escrita, mas o seu potencial mental”
Não sei se percebi esta questão. É que na minha perspectiva não adianta grande coisa eu saber que determinada pessoa tem grande potencial mental se não o consegue comunicar. O que a mim me interessa é o que a pessoa me transmite, independentemente do estilo de escrita, das estruturas que escolhe ou das imagens que utiliza, e independentemente da capacidade mental que possa ter. O que me interessa é que a sua comunicação seja eficaz, de outro modo eu não o entendo. Em resumo, do meu ponto de vista, o que é importante não é analisar a sua escrita nem o seu potencial mental mas a eficácia da sua comunicação, que se relaciona com os dois anteriores mas não se esgota neles.

Autores de tipo 1 e 2.
Cada um com a sua função e cada um com o seu tipo de escrita. Também cada um para um público alvo distinto. Uns para as massas, outros para as elites.
Conheço alguns dos autores que enquadras no tipo 2, reconheço-lhes o valor, o interesse e a importância, mas reconheço também que se destinam a grupos mais restritos, elites já iniciadas e que dominam minimamente a matéria.

“Os autores do tipo 1, - os que se propõe ajudar a pessoa a entender e curar o seu próprio quotidiano aqui na Terra (…) Correm o risco de serem repetitivos”… Talvez, tal como os outros. Mas às vezes as lições importantes têm mesmo de ser repetidas para serem interiorizadas. Ou ditas, as mesmas coisas, de maneiras diferentes. Mas as grandes verdades são sempre as mesmas, universais e intemporais, na sua maioria. Não as repetir é difícil. E prejudicial.

Neste momento de aceleração do processo de preparação para a nova fase parece-me de vital importância que quem já despertou faça todos os esforços possíveis para que os outros também despertem. No maior número possível.
Talvez aqui, mais uma vez, a importância dos fazedores de pontes, entendendo o discurso de uns e transformando-o em algo entendível pelos outros.


“Isto para justificar que a ideia de se escrever simples é uma “ilusão”. Não há textos simples, pela simples razão de, nesta área não poderem haver.”
Para já não estou de acordo, mas vou ter de pensar melhor sobre esta questão. Acredito que as grandes verdades são simples, e talvez mais nesta área do que nas outras.

:)
 
Filipa:
Dizes “só existe necessidade de pontes que interpretem e expliquem as teorias quando as pessoas que desenvolvem as teorias a) não têm a capacidade de o fazer e/ou b) não têm vontade de o fazer.”
Poderás ter alguma razão, em alguns casos, talvez, mas noutros não creio que seja uma atitude de “não é esse o meu papel”, ou de falta de capacidade ou de vontade. Penso que se trata muito simplesmente de uma vocação para um determinado tipo de discurso. Assim como há muito bons autores de poesia que não têm desenvoltura nem interesse pela narrativa, ou pelo drama, ou por outra coisa qualquer, também nesta área se poderia dizer que há diferentes “géneros” e que há autores que têm mais facilidade e mais vocação para uns do que para outros.

Quanto a esses a quem te referes com ironia como os que acham indigna a descida, não são, obviamente, os verdadeiros espiritualistas, porque os verdadeiros sábios são de uma humildade grandiosa e enternecedora.

Dizes que para transmitir com simplicidade é preciso boa organização mental e uma boa capacidade de comunicação, bem como o envolvimento do coração. Eu diria mais, que para conseguirmos ser simples temos de passar por duas fases distintas:
1ª No processo de recolha de informação (qualquer que seja o tema em causa) complexificamos muito, reunimos muitos conceitos, fazemos referências a vários autores, a questões diversas, etc.;
2ª No processo de interiorização e assimilação as coisas tornam-se cada vez mais simples, como se tudo convergisse para reforçar a verdade mais profunda.
É como se tivéssemos de passar por uma espécie de processo alquímico, como se tivéssemos de recolher muito lixo, chumbo, ferro, prata, etc., encher o nosso caldeirão, mexer muito bem, e o que sai é o ouro que nós conseguimos retirar de tudo aquilo. E quando chegamos a esta fase, só ficamos com o essencial e com o mais nobre. E como fomos nós que fizemos a recolha, remexemos a coisa, triturámos tudo, misturámos a nossa alma no processo e encontrámos o tesouro, como o processo se deu nas entranhas todas, se transformou, nos transformou e enriqueceu, passa a parecer-nos a verdade mais grandiosa e mais simples.

:)
 
Escrvi o comentário seguinte logo a seguir ao da Filipa; só ao tentar publicá-lo vi que entretanto tinham aparecido várias respostas da Olga, que ainda não li e por isso não tive em conta. Fica para depois, se oportuno.


Quero agradecer à Filipa ter exposto a sua opinião, que está bastante próxima da minha.
Na verdade estava a sentir-me um pouco "marginal" e sozinha neste universo de pessoas intuitivas, sensitivas, que quase já não precisam da mente e não compreendem que outros ainda precisem.
Penso que o "sentir" (em vez de entender), "saber com o coração", etc., não são capacidades que se adquiram por um passe de mágica, nem por simplesmente deixarmos de "resistir" a isso.

Passámos a vida inteira a desenvolver o nosso lado racional (hemisfério esquerdo) e não é fácil inverter ou equilibrar esse processo; por vezes caímos mesmo em grandes enganos quando pensamos estar a seguir a nossa intuição (os que não a temos desenvolvida).

"Parar, fazer silêncio, deixar a ilusão de que não se entende" (segundo o António R.), será sem dúvida um dos métodos a seguir, mas só deve ser assim tão simples para quem já o pratica há longo tempo.

A Olga também deu óptimos conselhos: fala, por exemplo, em "nos treinarmos a ouvir o coração", em "sentir a verdade da informação", que me parece ser já o caso de muita gente por estes lados.
Mas como uma criança que não sabe montar um brinquedo, eu faço uma pergunta de analfabeto na matéria: Como? Há métodos, atitudes, exercícios que se possam praticar?
É que eu apenas aprendi a "ouvir o coração" relativamente à compaixão, a pôr-me no lugar de outros, mas isso não é de grande ajuda no que toca à descodificação de mensagens ou a "sentir" o que é verdadeiro.

Não duvido nem desespero de poder desenvolver essa capacidade (nem ofereço resistência, pelo menos conscientemente), só pretendo dizer aos que a têm naturalmente ou já a desenvolveram, que para muitos outros não é assim tão fácil, por muita boa vontade que tenham.

Por isso, e porque estes últimos também são filhos de Deus (não sei se "escolhidos"), acho, como a Filipa, que os melhores espiritualistas são os que têm também boa capacidade de comunicação, de preferência dirigida a todos e não apenas auma certa elite.

Abraços a todos os intervenientes,
Maria A.
 
Respondo agora à Olga:
Demorei um bocado a escrever o comentário anterior, devido a várias interrupções, e daí a "décalage".

Não me farto de te ouvir/ler, porque acho que tenho muito a aprender contigo. Li também as respostas que deste a outros, plenas de bom senso.

No que me diz respeito, concordo com a atitude que aconselhas, de defender com firmeza as nossas convicções e crenças.
Só que, no aspecto espiritual, eu ainda estou em fase de procura e de triagem, pelo que ainda não tenho propriamente uma "crença" específica a defender.
O que para já tenho que defender é o direito a essa procura, o que complica um pouco mais as coisas.

Quanto ao que "sinto", creio que a resposta já ficou no comentário anterior.

Obrigada pela tua disponibilidade e um abraço.
Maria A.
 
Olga: Talvez. Mas:

1) pensei que se estava a falar de transmissão de informação, de ensinamentos. Para ensinar, pode haver muitos géneros de discursos, mas só os eficazes (eficácia = capacidade de) acabam por ser realmente relevantes e duradouros;
2) acho que existem efectivamente charlatães que se fazem passar por espirituais e daí o perigo (para quem se aproxima de boa fé, por uma necessidade genuína, e que pode ser enganado, como foi o caso em discussão), e daí eu me guiar pela clareza e pela simplicidade (onde é mais fácil, pela transparência, detectar a verdade) – e pelo coração, obviamente, repito que uma coisa não invalida a outra - e daí a ironia.
3) essas fases distintas parecem-me correctas mas estão mais ligadas à percepção, do que à transmissão de informação, o que me faria voltar a 1).

Apesar de tudo isto acho importante que existam os tais fazedores de pontes. Mas a informação na fonte é sempre mais fidedigna (veja -se o que foi fazendo a Igreja Católica, ou pior ainda, alguns seguidores do Islão). Acho perfeitamente legítimo que se espere de quem possa vir a ser uma referência espiritual, que seja simples e claro (e sério, mas isso é mais difícil de validar), para evitar, pelo menos, a distorção quase inevitável dos intermediários. Mas também acredito que as verdadeiras referências o sejam. Por isso descobri-las é fazer um click e encontrar a Luz. É finalmente identificarmo-nos com algo que sentíamos no fundo de nós mesmos, mas não sabíamos explicar com tal clareza e simplicidade. Mesmo que seja algo de muito complexo. Os outros, são mais do mesmo, mesmo que muito diferentes entre si. E há tantos mais do mesmo por aí… que sinto perfeitamente a “frustração” da Maria A., e, de uma forma diferente, a “frustração” do António – perdoem-me os citados por os usar no meu raciocínio.

Maria A (Olga, desculpa a usurpação do espaço):

Como a compreendo. Eu nunca fui seguidora de nada nem de ninguém, tive essa “sorte”, e sempre usei muito a minha capacidade mental. Para enfrentar, e se necessário racionalizar os problemas, para tentar compreender o Mundo. Acabei por descobrir que o coração é o grande impulsionador da verdade, mas a mente é um poderosíssimo auxiliar. Numa primeira fase da vida, em que estamos muito verdes face a um Mundo que inevitavelmente nos parece tão cruel (vindo nós de outro tão mais subtil), acho mesmo que é fundamental, para criar uma carapaça que nos permite ganhar espaço interior. Para mim foi fundamental. Depois, com a aprendizagem da vida, fui aprendendo a usar mais e mais o coração, continuando a usar, sempre que achava necessário, o filtro da mente. Hoje em dia sinto-me muito bem com ambos, o coração aponta o caminho, ajuda a sentir com segurança, mas a mente ajuda a compreender, por exemplo, a lógica (ou a falta de lógica) dos outros, a criar estratégias, a comunicar com os outros. Quando oiço a frase, típica nalgum meio new age “não concordas porque não percebes, és demasiado mental”, rio-me, e não concordo mesmo nada.
Quanto ao uso do coração, é fácil. Basta a serenidade para o ouvirmos distintamente. Para mim nunca foram precisos mantras ou rituais. Para atingir a serenidade, é como diz a Olga, ganhar auto-confiança. Como a ganhar? Não sei, é ir fazendo, sem depender de terceiros, e ver as coisas a funcionar. E gostar do que fazemos, mesmo que tropecemos pelo caminho. E verificar que afinal somos capazes, afinal não precisamos de a ou b para fazer, para criar, para ser.

Um abraço,
Filipa
 
Excelente!...
Agradeço *
 
Maria A.:
Se em algum momento dei a entender que a mente era dispensável é porque não me expliquei bem. Não acho que o seja, é um bom apoio. O que quero é distinguir de uma atitude comummente aceite de que tudo tem de passar pelo filtro da razão e de que só se conseguirmos explicar tudo muito bem é que se torna credível. A mente tem sido sobrevalorizada em detrimento do coração, e por nos termos apegado durante tanto tempo a este tipo de atitude é que sentimos dificuldade em aceitar que haja outra realidade que não conseguimos justificar de forma lógica. Não digo que a mente é dispensável mas digo que não devemos ser escravos dela. Digo que o coração nos diz qual é o caminho e que a mente nos pode ajudar a chegar lá. Digo, em última análise, que ambos se complementam e ambos são necessários mas que a ordem tradicional se deve inverter, não deve ser a mente a comandar a nossa vida. Digo eu. Sinto eu. Portanto “quase já não precisam da mente” não é bem o termo, pelo menos no meu caso. A questão é mais de “inverteram as prioridades” e a mente já não está em primeiro lugar.

“"sentir" (em vez de entender), "saber com o coração", etc., não são capacidades que se adquiram por um passe de mágica”, claro, como toda a mestria, exige treino. E também não se diz que não possa ser difícil. Mas é muito compensador.

Pode acontecer que por vezes nos enganemos ao pensar que estamos a seguir a nossa intuição, principalmente no início. O que pode acontecer é que o que nós pensamos que é a voz da intuição pode ser a voz do ego, por exemplo, ou de outra origem, que nós ainda não conseguimos distinguir. Temos de ter paciência durante o processo de aprendizagem, com a prática vamos conseguindo distinguir cada vez melhor.

Métodos para ouvir o coração, perguntas tu. Na verdade chamo-lhe coração como lhe podia chamar voz interior, alma, guia interno, eu superior… refiro-me à minha ligação com o divino e à forma como o ouço em mim. A melhor forma que eu tenho de saber se algo é verdade para mim, ou se é um caminho certo, ou qualquer outra coisa certa, é pela sensação interior que sinto quando penso nisso. Se me der uma paz enorme, uma serenidade, uma leveza, uma sensação de encaixe, até uma alegria, então é porque sim. Se, pelo contrário, pensando nisso fico com uma sensação desagradável, pesada, de desconforto, um nó no estômago, o coração inquieto, parece que algo não encaixa bem, então é porque não. Foi assim que eu comecei a treinar a ouvir cada vez mais a minha voz interior, até se tornar cada vez mais clara e imprescindível. Depois há outras formas, mas esta para mim foi fundamental.

“O que para já tenho que defender é o direito a essa procura”. Adorei. É mesmo por aí!
:)
 
Filipa:
“Essas fases distintas parecem-me correctas mas estão mais ligadas à percepção, do que à transmissão de informação”. Exactamente. A minha teoria é de que se essas fases não forem vividas nessa sequência e nessa intensidade não são verdadeiramente interiorizadas, não se transformam em verdadeira sabedoria, não se transformam em simplicidade. E se não se tornar simples para nós não podemos transmiti-lo como simples para os outros. É o que me parece, para já.

“A informação na fonte é sempre mais fidedigna” completamente de acordo.
A “distorção quase inevitável dos intermediários” também é uma possibilidade. Também há desvantagens no processo. Mas encaro isto da mesma forma que encaro as traduções de textos estrangeiros, não sou particularmente fã, preferia o original, mas se eu não dominar essa língua prefiro ter acesso a uma versão do que não ter acesso.

Usurpa o espaço quando quiseres. É nosso.
:)
 
Anónimo: Obrigada.
:)
 
Mais uma passagem à pressa para agradecer as palavras da Olga e da Filipa, e pedir desculpa por algumas expressões minhas menos correctas.

Quanto às sugestões (para aprender a "sentir"), parecem-me muito válidas e creio que o que me faz mesmo falta é SERENIDADE. Infelizmente não é uma característica nem pessoal, nem do meu meio próximo, mas talvez deva retomar uma prática que já utilizei temporariamente, de reservar alguns minutos por dia para uma espécie de meditação ou concentração através da respiração. Talvez isso me ajude a "serenar".

Abraços e outra vez obrigada.
Maria A.
 
entre o que se diz e aquilo que se ouve(ou o que se escreve e o que se entende) há por vezes algum "ruído"...

apesar de tudo devemos construír pontes em vez de muros...
 
Há muito tempo que não participava de um diálogo tão elevado e compensador para a alma.

Muito obrigado pelas oportunidades que tive para vos ler e meditar nas vossas palavras.

No entanto, o que hoje venho fazer, é tentar outra coisa.

Toda esta nossa conversa à volta da mente e do coração levou-me a reconhecer que as pessoas do Elemento Ar apresentam em si, claramente, características mentais muito acentuadas.

Não pretendo falar sobre isto, porque não é disso que se trata aqui. Obviamente estas pessoas, enfrentam dificuldades acrescidas no que ao "sentir" diz respeito.

Pertencendo eu a esse grupo (Sol, Mercúrio e Marte em Gémeos, Saturno em Virgem, além de uns quantos aspectos a ajudarem à festa) aprendi à minha própria custa, que aquilo que chamamos "mente" é um corpo da fisicalidade que nos pertence - é o corpo mental. Tal como temos o corpo emocional e o corpo físico. Apenas para esta vida.

Uma das tarefas deste corpo mental, é tentar criar as condições para "disparar" para os outros corpos da fisicalidade, determinada informação protectora.

Protectora de quê? De memórias antigas que possam envolver sofrimento.

Se assim não fosse, o ser humano poderia entrar facilmente em colapso, com as recordações menos boas vivenciadas pelo seu Ser em experiências anteriores, muito antigas, neste ou em outros planetas.

O nosso Ser - enquanto partícipe da divindade - foi fazendo, ao longo de Eras, uns "acordos/contratos/cedências" [não sei que nome dar, exactamente]para fazer as experiências da dualidade. Não estou a valorizar em bom ou mau, em positivo ou negativo. Apenas experiências da dualidade, porque este universo no qual vivemos tem essa característica.

Todas essas experiências - aqui na Terra e em outros quadrantes galácticos - estão guardadas num corpo que possuimos em dimensão mais elevada.

Qualquer que seja a situação, a nossa aprendizagem aqui é tentarmos "ir até Deus" (chamemos-lhe o que quisermos: Jesus, Sananda, etc.).

E aqui é onde entra o corpo mental.

Para chegarmos até Ele, é necessário eliminar os RUÍDOS que a nossa mente produz.

Não há volta a dar a esta situação.

Temos que ir até ao SILÊNCIO.

Esta é a caminhada: do ruído ao silêncio.

E mesmo assim, não há garantias de coisa nenhuma.

Enquanto estivermos a falar de ouvir o coração, estamos apenas a falar de tentarmos ser mais intuitivos.

Tentar ser intuitivo, significa que estamos a tentar deixar de lado o ruido do mente, que apenas tenta nos proteger.

Mais acima escrevi que vinha tentar outra coisa.

E essa coisa é:

Partilhar contigo uma experiência pessoal.

- Reconhecer que a nossa mente é um corpo distinto do nosso corpo físico e que pode ser tratado como tal. Como um ente separado, autónomo, apesar de necessário no nosso quotidiano.

Aprendi há uns anos um pequeno exercício, que ainda uso, para fazer calar a mente (temporariamente). Quanto mais praticamos e treinamos, mais vamos conseguindo ficar em silêncio. Nunca conseguiremos calar a mente definitivamente, pois ela tem a sua função específica.

Eu faço o exercício assim:

1 - Imagino-me eu próprio (o meu actual corpo físico) em tamanho muito pequeno, dentro da minha cabeça.

2 - Frente a mim está uma esfera sempre em movimento e falardor, ruidoso (como se fosse a representação do meu corpo mental).

3 - Esse corpo mental quer muita "conversa". No meu caso, então, quer mesmo muita. Muito analisar, muito argumentar, etc., etc.

4 - Pode ser uma situação um pouco intimidante, nos primeiros exercícios.

5 - Aí, imagino o meu corpo físico a dar uma "ordem": - CALA-TE. NÃO MANDAS EM MIM. NÃO DECIDES POR MIM. Isto, à primeira vista, parece uma coisa infantil, mas é de uma eficácia incrível.

6 - E a mente cala-se mesmo. Durante um momento. Com a prática esse "momento" alarga-se.

7 - É quando o meu corpo físico assume a representação do meu SER.

8 - Fazer este exercício em meditação é demasiado fácil e não tem nenhum significado especial.

9 - Faço isto em pleno movimento: até a lavar os pratos, tomar o duche, numa reunião de negócios...

10 - São minutos de silêncio consciente (não em meditação) em que o nosso Ser sobressai e toma as suas decisões, sem a frustração dos ruídos à sua volta.

Olga,

Apenas dizer-te que este exercício de mandar calar a mente funciona para mim.

Não significa que para outros seja funcional. Mas tenho ensinado a algumas pessoas que o praticam, com resultados benéficos.

Tinha que partilhar contigo e teus leitores esta experiência.

Obrigado.

António
 
Tendo sido em parte "causadora" do artigo inicial e do diálogo que aqui se lhe seguiu, sinto-me grata em primeiro lugar para com a Olga, por ter pegado tão bem no assunto e pelas sugestões que depois foi dando. Mas agradeço também a todos os que participaram e quiseram ajudar-me (sendo eu o "parente pobre" em vários aspectos).

É certo que o meu pedido inicial era outro e apelava a outros, mas por vezes recebe-se o que não se espera e de quem não se espera.
Foi o caso aqui.
Talvez fosse isto o mais necessário.
De qualquer modo, houve uma dinâmica, que permitiu abordar vários aspectos sucessivamente.

O último contributo (até à hora em que escrevo) foi do António, de quem apreciei sobretudo as dicas para "calar a mente". Ainda não sei se comigo resulta, mas é mais uma ferramenta, que agradeço.

Não esquecerei também todas as outras sugestões que recebi e estou certa que, se outras pessoas vierem ler estes comentários, não será só a mim que elas servirão.

E já que mostraram terem tanto para partilhar, incentivo-vos a continuar a postar ou comentar sobre estes temas, não apenas de uma forma teórica (como se vê em tantos sítios), mas da maneira que aqui fizeram, trazendo ajudas concretas. Sei que o António vai acabar o blogue dele, mas pode continuar em outros através dos comentários, ou no novo se o formato assim permitir.

Pela minha parte, e já que não tenho blogue, posso contribuir com comentários, perguntas, eventualmente sugestões de assuntos (abertas, isto é, para quem puder e quiser pegar-lhes).

Para todos, os meus agradecimentos e um abraço.
Para ti, amiga Olga (posso chamar-te assim?), um abraço muito especial e com muito carinho. Continua!
Maria A.
 
Maria:
Dizes que te faz falta serenidade. Ter a noção do que, mais especificamente, está a dificultar o processo é muito bom, podes enfrentá-lo directamente.
É claro que se a mente estiver em turbilhão as vozes que se ouvem são as da mente que bloqueiam todo o resto. Daí a grande importância da serenidade.
Se já descobriste que a respiração te ajuda, é uma questão de continuar a insistir, cada um deve encontrar os métodos que para si são mais eficazes. Para mim, por exemplo, não é a respiração que me faz serenar mais. Para mim funciona a verbalização e a visualização. Dizer mentalmente a palavra SERENIDADE ajuda-me muito. E até vou abrandando ao dizê-lo para reforçar o efeito SE…RE… NI… … DA… … … DE… Em várias situações e momentos do dia em que faça isto o efeito é poderoso e instantâneo, é como se uma chuva de serenidade descesse do céu sobre mim e alterasse completamente a minha realidade, interna e externa. Quanto à visualização, imagino a minha mente completamente vazia, um espaço em branco, quase como uma casa vazia onde não deixasse entrar nada. Se algum pensamento bate à porta digo-lhe que agora não, volte mais tarde. Às vezes ainda reforço dizendo mentalmente “nenhum pensamento. Nada.”.
Isto a propósito do comentário de dia 16.

Quanto ao comentário do dia 17 (já a dar para o 18, como o meu…) fiquei indignada com uma expressão que utilizaste. Eu indigno-me com alguma facilidade, sou triplo fogo, principalmente com o que considero serem injustiças. E acho inaceitável que te consideres o “parente pobre”, neste ou em qualquer outro aspecto. Não existem parentes pobres, somos todos igualmente ricos, simplesmente com experiências diferentes, necessidades diferentes e percursos diferentes. Portanto, faz-me o grande favor, mas especialmente a ti própria, de não te considerares menos do que aquilo que és, um ser humano fantástico, cheio de potencialidades, em evolução e à procura do caminho. É que aquilo que nós pensamos cria a nossa realidade (e isto era matéria para outro post e mais uma série de comentários).

Podes chamar-me assim, claro.
Sempre às ordens.
:)
 
Rascunhos:
Pontes em vez de muros, apesar do “ruído” inevitável da comunicação. Completamente de acordo. Tenho fé de que se formos persistentes as pontes tornam-se cada vez mais (e maiores) e os ruídos cada vez menos.
:)


António Rosa:
Agradeço também a tua disponibilidade para participar na discussão e trazer contributos valiosos.
Obrigada por partilhares connosco a tua experiência. Vou experimentar.
:)
 
Olá,

António: como me reconheço às vezes em si. Eu também mando calar a mente. Mas faço ao contrário, quando começo a ficar saturada digo “CALA-TE!” em tom algo brusco e depois visualizo a minha mente a ficar cada vez mais pequenina e com um ar envergonhado, a sorrir e a dizer “ups!”. E durante alguns momentos consigo o silêncio desejado. Sinto como se ela soubesse que às vezes se excede, e quando eu a repreendo, retira-se pelo menos momentaneamente.
Eu personalizo de alguma forma quer a mente quer o coração (ou a intuição), e sinto-os ambos como meus amigos. Sempre usei muito esta forma de percepção, ou visualização. Sempre visualizei e conversei da mesma forma com Deus, sobre tudo. Sem precisar de igrejas ou intermediários. E sempre senti que era ouvida, que Alguém tinha mesmo muita pachorra para me ouvir. Mesmo que não percebesse logo uma resposta, sentia que ela era dada, e que mais tarde se revelaria. Era Deus ou o meu Eu Superior? Não importa.

Maria: Esta forma de me sentir ligada, de personalizar as coisas à minha roda, sobretudo o invisível, foi o que sempre me ajudou a obter serenidade. E há sobretudo duas coisas que me dão muita paz e serenidade, sempre que preciso delas: uma é a natureza. Estou a conduzir ou a andar, olho para o jardim por onde passo, para uma árvore ao meu lado, oiço os pássaros ou vejo um raio de Sol reflectido em algo, e consigo personaliza-los e sinto a tal ligação. E a serenidade vem logo, e é tão bom. Vivo em Lisboa, no meio da confusão, mas mesmo uma cidade como esta tem imensos bocados de natureza, as suas janelas também, não preciso de estar mergulhada nela para a sentir. Está sempre mais ou menos disponível. O Sol, sobretudo, a sua luz e o seu calor tem um efeito pacificador muito grande. (E o mar, que adoro).
Outra coisa é a música: consigo alterar qualquer estado de espírito mais negativo com uma boa música. Sou desafinada mas adoro cantar, no carro, no duche. E fico muito mais positiva.
Nessas duas situações, a mente cala-se, distraída a olhar ou a ouvir, e o coração emerge. E quando estou mesmo serena, sinto também a ligação que para mim sempre foi a mais difícil: a ligação com as outras pessoas. Durante imensos anos senti-me uma “estrangeira”, não me conseguia identificar facilmente com os outros. Mas hoje em dia consigo serenar, olho para alguém por exemplo agressivo e sinto como se estivesse a ver um filme, com várias camadas. Sinto que essa pessoa é um actor como eu, no fundo igualzinho a mim. Com um personagem meio perdido, ainda. Sinto a ligação e a compaixão, e desaparece a animosidade ou o medo.

Obrigada a todos pelas reflexões, conselhos e um extra à Olga pela iniciativa e pelo espaço. Não conhecia o blog, vou regressar. (António, apeteceu-me intervir logo no seu espaço, mas você foi demasiado rápido para mim. :))

Um beijinho a todos,
Filipa.
 
Filipa:
Adorei esta “…visualizo a minha mente a ficar cada vez mais pequenina e com um ar envergonhado, a sorrir e a dizer “ups!”.” Vou experimentar também.

“Sinto que essa pessoa é um actor como eu, no fundo igualzinho a mim. Com um personagem meio perdido, ainda. Sinto a ligação e a compaixão, e desaparece a animosidade ou o medo.” Também penso assim, que quando age de formas que se poderiam considerar inaceitáveis a vários níveis, o outro está apenas ainda perdido de si próprio, do seu caminho, e isto faz desaparecer a animosidade e o medo que poderíamos sentir, como dizes, e faz surgir a compaixão e também a vontade de ajudar.

Muito te agradeço por teres participado no debate e por teres partilhado as tuas experiências.

Volta quando quiseres.
:)
 
Bravo Olga...

Bravo pelo Post...

Mas parabéns também a todos os que aqui comentaram. Que bela partilha de saberes.

O que se passou aqui é uma verdadeira "tertúlia de letras"... Aprendi... e acho que aprendemos todos... os que por aqui passámos e lemos.

Não vou fazer nenhum comentário XXXXL... LOL

Mas gostei muito de ter estado aqui convosco.

Um ABRAÇO cheio de LUZ para todos vós.
 
A Mónada:
Obrigada! Em nome de todos.
Estás à-vontade para fazer comentários XXXL quando quiseres :p
:)
 
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