Sunday, July 19, 2009
Crivos...

Tenho cá p’ra mim que isto não é bem assim. Ou talvez seja assim para os artistas que querem ou precisam (o que também será legítimo) de ganhar dinheiro com a sua arte.
Se o Picasso tivesse pensado assim alguma vez teria nascido o Guernica? Ele imaginou que alguém lho pudesse comprar? Se o Pollock estivesse preocupado com isso alguma vez teria dado asas ao seu action painting? Os exemplos poderiam suceder-se até à exaustão, e têm praticamente todos em comum o facto de não serem aceites, numa primeira fase, de serem considerados loucos, de serem mal tratados e até humilhados pelos críticos, e, obviamente, não comprados. E também têm mais ou menos em comum o facto de se estarem a borrifar para isso.
Mas não é preciso ir tão longe, olhemos para o artista que há em cada um de nós, agonizando por uma oportunidade de se exprimir. Por que não o deixamos fazê-lo? Porque achamos que não é suficientemente talentoso? Porque temos medo da crítica dos outros? Porque duvidamos que alguém queira comprar ou lhe atribua algum valor? E daí? Isso seria desculpa suficiente para deixar de respirar se nos dissessem que fazê-lo é uma forma de arte?
O verdadeiro artista, na minha opinião, não se limita aos domínios da mente nem da sociedade, se há algo nas suas entranhas a clamar por nascimento, não há nada que o possa impedir de se exprimir. É algo que o transcende. Se gostam ou não, se o aplaudem ou criticam, é-lhe absolutamente indiferente, porque nesse processo profundo e arrebatador, ele não escreve, ou pinta, ou dança, ou o que for, para receber dinheiro ou reconhecimento público, ele cria porque simplesmente não pode deixar de o fazer.
(Imagem: Children Writing, Pablo Picasso)