Wednesday, December 30, 2009

 

Motivação?!? Ou Carta Aberta à Ministra da Educação


Senhora Ministra,

Sou professora. Sou professora por vocação e nunca me arrependi da escolha que fiz, embora nos últimos tempos pudesse ter vários motivos para isso. Sempre trabalhei com motivação, pelo bem dos alunos e da escola, e sempre fiz formação muito para além da exigida, com o intuito de ser uma profissional cada vez melhor.

Não concordo com o novo modelo de avaliação, por várias razões, especialmente pelas injustiças que cria, mas decidi não gastar as minhas energias com isso, preferi gastá-las naquilo que é verdadeiramente importante: o trabalho com e para os alunos. E também não participei na corrida aos excelentes e aos muito bons, mais do que os crachás e os brindes e o que a sociedade reconhece, interessa-me o que eu penso, e o que pensam os meus alunos. Prefiro trabalhar em sossego, sem grandes festivais e bandeirolas.

Até tentei manter-me mais ou menos à margem de politiquices. E nem sou muito de reclamar. Mas dizerem-me que isto é uma forma de motivação é a última gota!

Disse a Srª Ministra da Educação, hoje em directo no telejornal, que o sistema de quotas pretende diferenciar os professores e incentivá-los a querer ser cada vez melhores. Desculpe, Srª Ministra, mas uma de nós não está a ver as coisas com clareza. Então vejamos:
a) O que distingue os professores é a avaliação. Com mais ou menos justiça (infelizmente, segundo o que tenho visto, com menos justiça do que com mais, mas esta não é a questão que agora discuto), o sistema que estabelece a hierarquia de qualidade é o chamado sistema de avaliação, é o que no final, aplicados os critérios e recolhidos os dados, se traduzirá em um resultado, numérico e qualitativo.
b) Outra coisa, muito diferente, é o sistema de quotas. De acordo com esse sistema, uma escola com 20 ou 30 professores excelentes (ou mais, porque o ideal era que fossem todos) poderá reconhecer como tal apenas 10, porque não tem quotas para mais.

Agora diga-me, Srª Ministra, de que forma é que isto incentiva os professores a fazerem cada vez mais e melhor? Se um professor se esforça ao máximo, se tem um desempenho exemplar, se a sua prestação é inequivocamente excelente e depois lhe dizem no final do ano que não pode receber a classificação que merece porque não há “vagas”, qual considera que poderá ser a sua motivação? E em que medida é que isso poderá contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes?

Srª Ministra, sabem todos os pedagogos que se ensina mais pelo exemplo do que pela palavra, e o mínimo que eu espero da máxima representante da Educação em Portugal é que seja honesta. Se o que se pretende é fazer cortes orçamentais, que se tenha a coragem de o assumir, mais facilmente o aceitaria do que esta farsa de nos tentarem deitar areia para os olhos. Respeito e honestidade, será pedir muito?

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