Friday, August 22, 2014

 

Crónicas do Lobo Mau


Já conheço há bastante tempo a história do lobo bom e do lobo mau. Contada em diferentes versões, a mensagem fundamental é a de que temos duas forças dentro de nós, uma positiva e outra negativa, e sugere-se que a solução para o conflito que existe entre as duas é alimentar uma em detrimento da outra, sendo que a segunda acabará por, desnutrida, definhar e morrer.

É uma história da sabedoria antiga, partilhada por várias culturas, e durante bastante tempo pareceu-me correcta e lógica esta teoria, e é claro que eu queria alimentar o meu lobo bom e estava disposta a deixar o meu lobo mau morrer de inanição.

Mas hoje tenho uma visão diferente. Parece-me uma história que exclui, que nega, que rejeita, e com isso não só não faz com que o "lobo mau" enfraqueça e morra como faz com que se fortaleça ainda mais, só que mais escondido.

Se eu tenho dentro de mim um lobo bom e um lobo mau, e se ambos são meus e parte de mim, rejeitar um lado de mim não me vai fazer mais forte, vai tornar-me mais fraca. Fingir que ele não está lá, negar a sua existência não vai fazer com que deixe de existir, vai fazer com que continue a existir mas sem a minha consciência disso.

Então o que posso eu fazer com o meu lobo mau?

1º Ter consciência de que ele existe.

2º Aceitá-lo.

3º Olhar para ele e ouvi-lo, tentar perceber que tipo de dor ou mal-estar ou necessidade insatisfeita fazem dele "mau".

4º Tratar dele, com amor, ver do que precisa, curar a sua dor...

5º Integrá-lo.

E assim, vendo-o em vez de o ignorar, curando-o em vez de o ferir ainda mais, integrando-o em vez de o excluir, eu torno-me mais completa, mais inteira, mais forte, mais feliz, mais eu.


Imagem: Beatriz Martin Vidal, Between Dreams and Reality

 

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