Sunday, February 28, 2016
Crónicas do lobo mau: Quando a compreensão pode não ser a melhor opção

Depois de sair do local em que
conversámos, e a caminho de Lisboa, surgiu-me na mente a lembrança de uma
situação que me vem incomodando já há tempos. Quase a entrar em fase de
ebulição surgiu uma vozinha interna a lembrar-me: “Mas atenção!... O propósito
foi este e este!...”. Ah, ok, então está bem. E num flash apercebi-me de que o
que disse à senhora se aplicava também a mim. E percebi que vinha fazendo isto
há muito tempo. Por compreender, compreender, compreender, não me permitia
sentir a revolta que precisava de ser sentida, e quando ela assomava à janela
vinha a voz da razão fazer abortar o processo ebulitivo. Resultado: foi ficando
presa na gaveta, e eu presa à situação sem conseguir libertar-me dela. E assim
a compreensão me tem feito, neste caso, mais mal do que bem.
Solução: dar a cada fase, emoção,
sentimento… o seu espaço de manifestação. Respeitar o direito (e a necessidade)
de cada um deles de existir. Não se pode pular etapas ou sentimentos, sob pena
de se ficar preso num qualquer atoleiro de que já nem se conhece o lugar ou o
tempo. Guardar na gaveta ou debaixo do tapete, ainda que por razões
aparentemente muito positivas, pode dar resultados muito negativos.
Então, por mais que eu compreenda
o propósito da experiência, faz parte da aprendizagem passar por todas as
fases, incluindo a da revolta.
(Imagem: O grito, Munch)